decisão do presidente eleito Donald Trump de nomear Mike Huckabee como embaixador dos Estados Unidos em Israel sinaliza tempos difíceis para todo o Oriente Médio, especialmente para os árabes-palestinos. Huckabee, ex-governador do Arkansas, é pastor evangélico e defende a ideia de que Israel possui um direito divino de ocupar toda a Cisjordânia e Gaza. Ele nem sequer reconhece a existência da Cisjordânia, referindo-se a ela pelos nomes bíblicos Judeia e Samaria.
Para Huckabee, os palestinos não têm direito a um Estado independente. Isso implica que, em sua visão, não existem “assentamentos ilegais”, uma vez que a região, que segundo a ONU deveria abrigar Estados israelense e palestino, pertence exclusivamente a Israel. Em relação à atual guerra entre Israel e o Hamas, Huckabee se opõe a um cessar-fogo, mesmo diante da tragédia humanitária em curso, e insiste que Israel deve continuar os ataques até destruir o Hamas.
Sua posição está fundamentada em uma linha teológica específica, defendida por muitos evangélicos, que associa a criação do Estado de Israel a condições necessárias para eventos bíblicos como o arrebatamento da igreja, a manifestação do anticristo e a construção de um novo templo em Jerusalém, no local do Domo da Rocha, um dos mais sagrados para o islamismo.
Huckabee também é um crítico contundente do Irã e apoia medidas para enfraquecer a capacidade bélica do país, que representa uma ameaça constante à segurança de Israel.
Praticamente, Huckabee demonstra suas convicções por meio de seu envolvimento com organizações norte-americanas, muitas delas cristãs, que arrecadam milhões de dólares anualmente para financiar projetos em Israel. Entre elas está a International Christian Embassy in Jerusalem (Icej), que possui escritórios em mais de 50 países. A Icej defende que a terra de Israel — incluindo a Cisjordânia e Gaza — foi dada ao povo de Deus como possessão eterna. Alguns analistas afirmam que a organização financia, inclusive, a compra de coletes à prova de bala para colonos em assentamentos ilegais na Cisjordânia.
Com um representante com essas ideias, é esperado que a situação dos árabes-palestinos se torne ainda mais precária.
Um aspecto frequentemente ignorado por cristãos que apoiam o moderno Estado de Israel é a condição dos árabes-cristãos palestinos. Em 1948, cerca de 50% da população de Jerusalém e 90% da de Belém eram cristãos. Em 1988, esses números não ultrapassavam 10%. Hoje, estima-se que menos de 2% dos árabes-palestinos sejam cristãos. Muitos emigraram devido à pressão econômica e social imposta pelo governo israelense. A possibilidade de o cristianismo desaparecer da terra onde Jesus nasceu já não parece remota.
Diante desse cenário, recordo as palavras de um amigo teólogo: “Os ensinamentos de Jesus e Paulo são muito claros — sem xingamentos, retaliação ou violência, mas com amor, bênção e perseverança. Então, defender violência, supressão, roubo de terra e água, destruição de olivais e vinhedos, e demolição de casas, dizendo que isso é justificado pela Bíblia, é desobediência intencional ao ensino do próprio Senhor.”