Correntista parece uma palavra antiquada para falar de cliente de banco. O termo mais adequado é usuário, já que todo mundo que tem um telefone celular carrega um pequeno banco no bolso. As inovações se multiplicam, configurando uma “nova era bancária”, título de uma das mesas da Conferência de Lisboa, evento promovido dia 15 de novembro por Lide, Folha e UOL em Portugal. O avanço dessa nova era depende de tecnologia, de cobertura telefônica — e também de fatores culturais.
Paulo Henrique Costa, presidente do Banco do Nordeste (BNB), afirmou que os bancos enfrentam um desafio no Brasil. “Somos um país que adota rapidamente novidades tecnológicas. Somos o segundo mercado mundial do Uber, do WhatsApp, do Facebook e do Instagram e o terceiro da Netflix. Os bancos precisam correr atrás dessa sede de inovação e modernização.” A proporção de brasileiros que são clientes de algum banco, 86%, é alto entre países emergentes.
Na Europa nem todo mundo é sequioso por novidades como os brasileiros. Sandra Utsumi, diretora executiva do Haitong Bank — empresa que surgiu quando o tradicional Banco Espírito Santo de Investimento, de Portugal, foi adquirido pela chinesa Haitong Securities S/A — lembra que em alguns dos países do continente o uso de internet banking e celulares é relativamente baixo. “Na Alemanha e na Áustria passa pouco de 50%, pois ainda há uma cultura do dinheiro vivo.”
Em Portugal, que tem um índice de bancarização alta —95% da população— o uso de serviços bancários em plataformas digitais é generalizado. Contribui para isso a cobertura ampla do sinal de celular. Luiz Fernando Furlan, chairman do Lide e ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, lembrou que no Brasil esse desafio é mais complicado. “Existem regiões do país, como a Amazônia, onde o sinal ainda não chega”, afirmou. Furlan foi um dos debatedores da mesa “Nova Era Bancária”.
Se o Brasil fez uma revolução na experiência do usuário com a adoção do Pix, que facilita enormemente as transferências bancárias, Portugal tem a sua própria versão da ferramenta, o aplicativo MBWay — que é um dos meios de pagamento mais usados no país.
Para quem se adapta mais facilmente à tecnologia, a União Europeia abre novas possibilidades dentro do conceito de open finance. Segundo Utsumi, um usuário em Portugal pode avaliar se prefere investir em produtos de bancos da França, Itália ou Espanha, ou de qualquer outro país da União Bancária Europeia, em função da melhor rentabilidade. Turbinadas pela inteligência artificial, ferramentas para comparar os desempenhos dos fundos em diferentes bancos e diversos países, de acordo com os integrantes da mesa, farão parte do futuro da experiência bancária.
No Brasil, diz Paulo Henrique Costa, haverá novas possibilidades no momento em que houver a adoção do Drex, a versão digital do real. Ele aposta que os brasileiros também adotarão facilmente a tecnologia do open banking. “É algo que dá um tremendo poder ao usuário do banco, pois ele pode escolher que dados compartilhar, como compartilhar, com quem compartilhar — e tomar as melhores decisões para seus investimentos”, diz Costa.
Para Isaac Sidney, presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), a modernização dos bancos brasileiros se dá num contexto histórico de reação a crises e sacolejos do mercado. Segundo ele, as empresas foram capazes de se reinventar em três momentos-chave: o Real, em 1994, o derretimento das hipotecas em 2008 e a pandemia em 2020. “Nossos bancos mostraram resiliência e capacidade de inovação.”
“O Plano Real expôs a ineficiência dos que trabalhavam na nuvem da ciranda financeira. Emergiram dali bancos mais eficientes e mais sólidos”, disse Sidney. “Mostramos resiliência também na crise de 2008, quando vários bancos americanos foram tragados pelo arrastão global. Na pandemia, os bancos foram importantíssimos para capitalizar a economia.”
O português Jorge Henriques é o vice-presidente da diretoria da CIP. A antiga entidade industrial portuguesa hoje é chamada de Confederação Empresarial de Portugal, ao incorporar agentes econômicos de diversos setores, que somam 71% do PIB (Produto Interno Bruto) do país. “Associações empresariais como a nossa agrupam tecnologias e áreas diferentes, e são essenciais no processo de internacionalização. Portugal é uma economia média na Europa, mas se agiganta com o intercâmbio e as alianças internacionais.”