Nove em cada dez municípios do Rio Grande do Sul têm risco muito alto de interrupção do abastecimento e perda de qualidade da água após tempestades de grandes proporções. O risco está associado ao potencial de dano na infraestrutura de estações de abastecimentos de água (ETAs).
Os dados são de um estudo do Instituto Trata Brasil, em parceria com a empresa Way Carbon, que analisou como as mudanças climáticas podem afetar o saneamento. A pesquisa mostra que os municípios gaúchos são os mais expostos ao risco de danos a estações de água por tempestades. Outras regiões do país sofrem mais com secas e ondas de calor, que também afetam o serviço de água e esgoto, diz o estudo.
“É notável uma predominância de risco muito alto em todo o estado do Rio Grande do Sul, onde em maio de 2024, as chuvas intensas danificaram duas das seis ETAs de Porto Alegre, forçando-as a paralisação”, diz o Trata Brasil, em nota sobre o estudo.
As enchentes que ocorreram em abril e maio deste ano são consideradas o maior desastre climático na história do estado. Em meio à tragédia, o sistema de abastecimento e esgoto da capital e de várias cidades na região metropolitana entrou em colapso
O estudo leva em conta os registros históricos de chuva no país ao longo de um século (1895-1994) e o compara com as décadas mais recentes para estimar os efeitos das mudanças climáticas em cada região.
“Os resultados destacam áreas do Brasil com maior probabilidade de agravamento, em termos de frequência e intensidade, de eventos de precipitação intensa”, diz o instituto. “Os valores mais altos são encontrados na região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e oeste do Paraná.”
Municípios com maior probabilidade de desabastecimento são aqueles com maior risco de enfrentarem grandes tempestades e que, ao mesmo tempo, têm um número menor de estações de água.
Entre as capitais, aquelas com maior risco de enfrentar esse problema são Florianópolis (SC), Vitória (ES), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e Belém (PA). Aquelas com menor risco são Rio Branco (AC), João Pessoa (PB), Aracaju (SE), Recife (PE) e Maceió (AL).
Estado | Nº de municípios | % com risco muito alto de danos a ETAs |
RS | 499 | 92 |
SC | 295 | 49 |
RJ | 92 | 22 |
PR | 399 | 19 |
GO | 246 | 10 |
As mesmas condições climáticas também aumentam a probabilidade de contaminação de rios e córregos pelo sistema de esgoto. “Chuvas concentradas em um único dia intensificam o risco de sobrecarga dos sistemas de esgoto, principalmente em áreas com índice de coleta é insuficiente”, diz o instituto. “O acúmulo repentino de água nas redes pode resultar no transbordamento de efluentes brutos, contaminando cursos d’água”.
Nesse quesito, Florianópolis é novamente a capital que apresenta maior risco de sofrer com esse problema. Em janeiro deste ano, por exemplo, uma chuva intensa causou transbordamento de esgoto para a lagoa da Conceição, um dos pontos turísticos mais famosos da cidade.
Já em relação às ondas de calor, os efeitos na qualidade do saneamento e acesso à água podem ser mais graves no Amazonas, no sul de Mato Grosso do Sul, entre o noroeste do Paraná e o oeste de São Paulo, e também no Rio Grande do Norte e no Ceará.
Nesses locais, a alta probabilidade da formação de ondas de calor combina com a baixa quantidade de estações de tratamento de água. Alguns municípios sequer contam com esse tipo de serviço, segundo o estudo. Essas regiões têm municípios que podem enfrentar até 17 ondas de calor por ano, diz a pesquisa.
O mesmo se aplica ao tratamento de esgoto. “O maior consumo de água pela população gera maior volume de efluentes a serem processados, e as estações podem sofrer redução na eficiência de tratamento pela sobrecarga”, diz o Trata Brasil.
As cinco capitais que podem enfrentar os piores problemas de saneamento devido à seca, por sua vez, estão no Norte ou Nordeste. São elas: Fortaleza (CE), Natal (RN), Teresina (PI), Belém (PA) e São Luís (MA).
“É possível notar uma concentração de municípios com risco muito alto no agreste e sertão nordestino, com destaque para Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Bahia”, registra o estudo. “O efeito é reduzido na região da Zona da Mata, próxima ao litoral.”