O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abriu a cúpula do G20, na manhã desta segunda (18) no Rio de Janeiro, avaliando que o “mundo está pior” desde que participou pela primeira vez de uma reunião do fórum, em 2008. Naquela época, ele afirmou que a crise econômica atingiria o Brasil como uma “marolinha”, mas que depois teve fortes efeitos durante o governo da sucessora Dilma Rousseff (PT).
Lula abriu os trabalhos do primeiro dia das reuniões de líderes mundiais do G20 mais representantes da União Europeia e da União Africana. E lançou oficialmente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que já soma 81 países e 66 organizações participantes.
“Estive na primeira reunião de líderes do G20 convocada em Washington (Estados Unidos) no contexto da crise financeira de 2008. Dezesseis anos depois, constato com tristeza que o mundo está pior”, disse Lula. Pouco atrás dele, estiveram a primeira-dama Janja da Silva e o ministro Fernando Haddad (Fazenda).
Ele seguiu a abertura repetindo um discurso que se tornou de praxe em eventos que participa tanto no Brasil como no exterior, dos gastos militares com guerras que poderiam ser direcionados para políticas públicas de combate à fome e à miséria, da ineficiência na gestão dos alimentos produzidos no mundo, entre outros.
Também repetiu o discurso de que os governos do PT fizeram o Brasil sair do mapa da fome da FAO em 2014 e que o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reverteu esta situação.
“Para o qual voltamos em 2022 em um contexto de desarticulação do estado de bem-estar social. Foi com tristeza que, ao voltar ao governo, encontrei um país com 33 milhões de pessoas famintas”, emendou Lula afirmando que, em 1 ano e 11 meses, já reverteu este quadro para 24 milhões e que pretende zerar até o final do seu mandato.
O presidente também pontuou que, neste meio tempo desde a reunião de líderes do G20 em 2008, a situação de conflitos no mundo piorou a ponto de hoje ocorrerem mais guerras e deslocamentos forçados desde a Segunda Guerra Mundial. Também citou o avanço dos desastres climáticos em todo o mundo, que agravam e aprofundam as desigualdades sociais, raciais e de gênero “na esteira de uma pandemia que ceifou mais de 15 milhões de vidas”.
Ressaltou que os gastos militares já consumiram US$ 2,4 trilhões – “isso é inaceitável”, pontuou – e que a fome no mundo é “produto de decisões políticas que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade”. “Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível”, pontuou.
“O G20 representa 85% dos US$ 110 trilhões do PIB mundial, 75% dos US$ 32 trilhões do comércio de bens e serviços, e 2/3 dos 8 bilhões de habitantes do planeta”, ressaltou para lembrar da importância do fórum.
Com base nestes números, Lula emendou afirmando que “compete aos que estão de volta nesta mesa acabar com essa chaga [fome] que envergonha a humanidade”.
“Não se trata apenas de fazer justiça, essa é uma condição imprescindível para construir sociedade mais próspera e um mundo de paz”, pontuou o presidente lembrando que a Aliança é um dos pilares da presidência rotativa do Brasil no G20 e faz parte dos objetivos 1 e 2 da Agenda 2030 da ONU.
Ele afirmou, ainda, que programas sociais implementados no Brasil, como o Bolsa Família, e políticas públicas como a agricultura familiar e alimentação escolar podem servir de inspiração para outros países. Este é, inclusive, um dos objetivos de uma doação de US$ 200 milhões feita pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) a países pobres.
A aliança tem como metas beneficiar 500 milhões de pessoas com programas de renda, expandir merendas escolares para mais 150 milhões de crianças e levar serviços de saúde a 200 milhões de mulheres e crianças.
Ainda nesta segunda (18), Lula discutirá à tarde com os demais participantes do G20 a reforma da governança das instituições multilaterais do mundo, em especial o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) – um dos principais pleitos dele desde o início deste terceiro mandato –, com a entrada do Brasil e de outros países em desenvolvimento.