Uma das maiores rivalidades do futebol do interior paulista, Guarani e Ponte Preta, de Campinas, se enfrentarão em 2025 na terceira divisão do Campeonato Brasileiro pela primeira vez em mais de um século de rivalidade.
Será a primeira vez que o futebol campineiro não terá um representante na primeira ou na segunda divisão nacional desde o início da era dos pontos corridos, em 2003.
Embora as duas equipes campineiras já tenham jogado a terceira divisão nacional, nunca fizeram isso juntas.
A queda da Ponte para a Série C foi sacramentada neste domingo (17), devido a uma combinação de resultados que a impede de sair do Z4 na última rodada, em partida contra o Avaí, em Florianópolis, no dia 24.
O Guarani já havia confirmado o rebaixamento na rodada anterior, após um empate sem gols contra o Amazonas no Brinco de Ouro da Princesa. O Bugre é o lanterna desde o início da competição, com 21 derrotas, apenas oito vitórias e a pior campanha da Série B.
O futebol paulista teve três dos quatro rebaixados —o Ituano também caiu, além do Brusque— à Série C, e o mesmo número de clubes que garantiram o acesso à Série A —Santos, Mirassol e Novorizontino. Sport, Ceará e Goiás ainda brigam pela última vaga na elite em 2025.
A primeira —e, até então, única— vez em que a Ponte Preta disputou a terceira divisão nacional foi em 1990, quando o rival disputava a Série B.
O Guarani, por sua vez, já disputou a Série C seis vezes —2007, 2008, 2013, 2014, 2015 e 2016—, em anos em que a Ponte Preta jogava a primeira ou a segunda divisão.
Reflexo do enfraquecimento do futebol do interior do Brasil nos últimos anos, a última vez que Campinas teve um representante na elite nacional foi em 2017, quando a Ponte terminou na 19ª e penúltima colocação na tabela de classificação.
A queda à Serie C representou o décimo rebaixamento do Guarani no século 21, e o quinto da Ponte Preta.
A última campanha de destaque da equipe verde e branco aconteceu em 2012, quando ficou com o vice-campeonato paulista, perdendo na decisão para o Santos por 7 a 2 no agregado. Em 2013, foi a vez de a Ponte Preta avançar até a final da Copa Sul-Americana, perdendo na decisão para o Lanús, da Argentina.
Guarani e Ponte Preta se enfrentaram pela primeira vez em 1912, em confronto cujo resultado não tem confirmação oficial. Desde então, se enfrentaram 207 vezes, com 71 vitórias do Guarani, 67 da Ponte Preta e 69 empates.
A má fase simultânea da dupla campineira passa por trocas constantes da comissão técnica e críticas das arquibancadas direcionadas à diretoria e aos jogadores.
Sob o comando do ex-presidente e então CEO Ricardo Moisés, o Guarani teve cinco técnicos no banco de reservas ao longo da temporada –quatro deles apenas durante a disputa do Campeonato Brasileiro–, além de também promover uma série de trocas dos executivos responsáveis pelo departamento de futebol.
Diante dos resultados ruins dentro de campo, o próprio Moisés anunciou sua saída em outubro, no mesmo dia em que o presidente do clube, André Marconatto, pediu afastamento alegando questões de saúde.
Com rápida passagem pelo clube em 2021, o técnico Allan Aal chegou em julho após a demissão do antecessor Pintado, em uma aposta para trazer novo ânimo aos jogadores.
A mudança, contudo, não surgiu efeito, com o Guarani somando apenas 32 pontos em 37 rodadas, em sua pior participação na Série B desde o início dos pontos corridos na divisão, em 2006.
Além dos problemas extracampo, reforços que chegaram para a temporada não conseguiram corresponder às expectativas, como o goleiro Vladimir e o meia Luan Dias, que já haviam caído para a Série B com o Santos, em 2023. O arqueiro também caiu com o Avaí em 2022 e amargou o terceiro rebaixamento seguido.
Vice-artilheiro da competição com 11 gols, o atacante Caio Dantas, que vinha sendo um dos destaques positivos do time, caiu de produção nas últimas rodadas —a última vez em que marcou foi no início de outubro, na derrota por 3 a 2 para o Botafogo-SP.
“A gente sabia da dificuldade que seria desde que a gente chegou. O Guarani já se encontrava na Série C quando chegamos. O desafio era grande, mas confiávamos muito que poderíamos reverter”, declarou o treinador Aal após o empate com o Amazonas.
O alvinegro campineiro chegou a ter uma largada melhor do que o rival histórico na disputa da Série B, com três vitórias e três empates nas dez primeiras rodadas. Encerrou a primeira metade da competição no meio da tabela, em 10º, a seis pontos do G4 e a sete do Z4.
Na segunda metade, no entanto, o time não conseguiu manter a toada, fazendo a pior campanha do returno. Foram 12 derrotas em 18 rodadas, além de três vitórias e três empates, despencando para o 17º lugar na tabela.
Diante da situação delicada, faltando três rodadas para o fim da competição, a direção da Ponte Preta optou por trazer de volta o técnico João Brigatti. Ele já havia salvado a equipe do rebaixamento em 2023, sendo substituído no meio do ano pelo experiente Nelsinho Baptista.
Dessa vez Brigatti não teve êxito no desafio, com derrotas por 2 a 1 para o Vila Nova e por 4 a 0 contra o Sport. Depois da goleada contra o time pernambucano em pleno Moisés Lucarelli, o treinador fez um desabafo, disse que o time foi humilhado e pediu desculpas à torcida.
“No esporte, a gente tem momentos de alegria e tristeza, mas não podemos viver no futebol uma situação como essa da Ponte Preta. Fomos humilhados pelo time adversário. Isso não cabe dentro da Ponte Preta. Eu sei que não vai valer muito, mas quero pedir desculpa para a nossa torcida. É o mínimo que a gente pode fazer”, afirmou o treinador.
Foi o segundo rebaixamento desde que o atual presidente, Marco Antonio Eberlin, assumiu em 2022. Naquele ano, a Ponte Preta foi rebaixada no Campeonato Paulista, conseguindo o acesso de volta à elite estadual no ano seguinte.
Após ter a queda à Série C confirmada, a direção publicou um comunicado em que se desculpou com a torcida e prometeu o retorno. “A Ponte Preta voltará pelo trabalho sério, com os pés no chão e fazendo o que precisa ser feito em busca de uma reconstrução total.”