A píton-real (Python regius) não parece uma cobra com grandes segredos. Elas são o segundo réptil de estimação mais popular do mundo, amadas por suas cores ricas e temperamento dócil. Também são facilmente reproduzidas e quase sempre mantidas sozinhas.
“As pessoas não pensam em certas cobras como sociais”, disse o ecologista Morgan Skinner, que estudou na Universidade Wilfrid Laurier em Ontário. “Elas tendem a mantê-las sozinhas ou isoladas, por causa de preconcepções.”
Porém, em um estudo publicado no último dia 6 no periódico Behavioral Ecology and Sociobiology, Skinner e seus colegas mostram que as pítons-reais são muito mais carinhosas umas com as outras do que qualquer um poderia imaginar.
O estudo do comportamento social das cobras passou por um renascimento nos últimos anos, segundo Noam Miller, que é autor do artigo e também está em Wilfrid Laurier. Os pesquisadores tendem a focar espécies de cobras que dão à luz filhotes vivos, passam os invernos juntas em tocas e formam “amizades”.
Enquanto trabalhava em seu doutorado no laboratório de Miller, Skinner começou a se perguntar como cobras não conhecidas por serem sociais interagiam umas com as outras.
Como a píton-real bota ovos, não dá à luz filhotes vivos e não precisa hibernar, parecia ser a candidata perfeita para o estudo. Em 2020, Skinner e sua colega Tamara Kumpan colocaram um grupo misto de seis pítons em um recinto grande por dez dias —um com abrigos de plástico suficientes para cada cobra— e deixaram uma câmera gravando.
Para a surpresa de Skinner, as seis cobras rapidamente se juntaram no mesmo abrigo e passaram mais de 60% do tempo juntas. Supondo que todas as cobras simplesmente gostaram de algo naquele abrigo específico, a equipe o removeu. Contudo, após alguma confusão inicial, as cobras escolheram outra base para se enrolar juntas.
Conforme a equipe repetiu o experimento ao longo dos próximos anos —com cinco diferentes grupos de jovens pítons—, o padrão se manteve. Duas vezes por dia, Skinner entrava e embaralhava as cobras. Ele as colocava no meio do recinto. Colocava pítons individuais sob abrigos diferentes para forçá-las a se encontrarem.
Vez após outra, as cobras escolhiam se empilhar em vez de se enrolar sozinhas.
Quando as cobras saíam para explorar o recinto, muitas vezes saíam juntas. E embora os machos tendessem a vagar mais do que as fêmeas, eles sempre voltavam à base.
“Isso me surpreendeu”, disse Skinner. “Não esperava isso de uma cobra que não esperava ser social.”
Na verdade, de acordo com Miller, as pítons-reais eram mais sociais do que outras cobras que, conforme outras pesquisas, podem ser surpreendentemente grupais, com algumas mostrando preferências claras sobre com quem passam o tempo.
As pítons-reais juvenis, por outro lado, não pareciam se importar muito com quem se abrigavam. “Elas só queriam estar juntas o tempo todo, em um abrigo”, afirmou Skinner.
Nenhum animal se comporta da mesma forma em cativeiro como na natureza, segundo Vladimir Dinets, especialista em comportamento social de répteis na Universidade do Tennessee, Knoxville, que não participou do estudo. Entretanto, como as cobras selvagens são difíceis de estudar, a pesquisa sobre o comportamento social em cobras em cativeiro ainda é útil.
“Fiquei impressionado como os pesquisadores resolveram toda a questão e como mostraram isso tão bem”, afirmou Dinets. “Costumo procurar falhas nas coisas que leio, e não consegui encontrar nada para criticar aqui.”
A equipe de pesquisa reconhece que é possível que a amabilidade das pítons seja um artefato do cativeiro. Mas, como as pítons-reais na natureza comem refeições relativamente grandes e frequentemente passam longos períodos sem se alimentar, elas podem não competir muito entre si, segundo Miller. Elas podem simplesmente sair das tocas comunitárias quando estão com fome e retornar quando estão satisfeitas.
Pítons-reais em cativeiro, portanto, podem ter perdido momentos sociais importantes. “Eles gostam de fazer isso”, disse Skinner.
A descoberta do estudo destaca o quanto há para aprender, segundo Miller. A suposição de que as cobras são inerentemente solitárias claramente precisa de mais testes.
“Todas as espécies de cobras que já estudei são muito sociais”, afirmou Miller. “E preferem ser sociais quando têm a escolha.”