A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e o secretario de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores, André Corrêa do Lago, afirmaram neste domingo (17) que acreditam no destravamento das negociações sobre financiamento climático em curso na COP29, conferência do clima da ONU em Baku (Azerbaijão).
“A negociação só acaba quando acaba”, afirmou ela, em entrevista após participar de evento paralelo ao encontro do G20 no Rio de Janeiro. “Por isso que geralmente as COPs são programadas para acontecer em 11 dias, e às vezes elas vão até o 12º dia.”
A cúpula em Baku deve se encerrar na próxima sexta-feira (22).
Marina lembrou a COP28, em Dubai, em que o comunicado final trouxe, ainda que de forma tímida para ambientalistas, uma primeira referência à transição para um mundo sem combustíveis fósseis, apesar de pressão de países produtores.
“Lá em Dubai, ninguém acreditava que se fosse sair de com uma resolução de transição para o fim do uso de combustível fóssil. E saímos de lá com [a meta de] triplicar [energia] renovável, dobrar a eficiência energética, e a transição para o fim do uso de combustível fóssil”, prosseguiu.
Em Baku, o principal debate se dá em torno do financiamento climático. Países debatem quem pagará a conta para reduzir emissões e desacelerar o processo de aquecimento do planeta. A divisão de responsabilidades sobre os recursos é tema de impasse.
Países em desenvolvimento querem que a conta —estimada em US$ 1 trilhão por ano— seja paga pelos países desenvolvidos, sob o argumento de que são os maiores responsáveis pela poluição na atmosfera. A Europa resiste a esse argumento.
O embaixador Corrêa do Lago destacou que os países desenvolvidos nunca chegaram ao valor de US$ 100 bilhões anuais em financiamento prometido na COP de Copenhague, há 15 anos. “Agora temos que definir um novo valor. E isso é absolutamente essencial, tendo em vista a urgência climática”.
“Se a gente não acelerar o financiamento, como é que você pode cobrar de países em desenvolvimento que têm que trabalhar com infraestrutura, com educação, com saúde?”, argumentou Corrêa do Lago. Ele acredita, porém, que a declaração final da COP vai trazer avanço sobre o tema.
O impasse contamina as discussões do G20, o grupo dos 20 países mais ricos do mundo, que ocorre no Rio de Janeiro. Países europeus relutam em colocar a questão do financiamento no comunicado da cúpula desta semana para evitar enviar um sinal para as tratativas na COP29.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez um apelo neste domingo aos líderes do G20, para que liderem um acordo na COP29 em Baku, pois o “fracasso não é uma opção” diante do aquecimento global.
“É hora de dar o exemplo com a liderança das maiores economias e maiores emissores de poluentes. O fracasso não é uma opção. Um resultado bem-sucedido na COP29 ainda é possível, mas exigirá liderança e compromisso do G20”, disse Guterres em entrevista coletiva no Rio de Janeiro.
Marina disse que o governo brasileiro espera bom senso dos países do G20, que respondem por 80% das emissões e 75% da geração de resíduos globais. “Se eles fizessem o dever de casa, nossos problemas estariam resolvidos” afirmou.
Em entrevista após Marina, Corrêa do Lago disse que houve avanço sobre o tema na madrugada deste domingo, mas não deu detalhes.
A ministra afirmou que, no caso da COP, “a liderança do Azerbaijão tem a clareza de que o indicador de sucesso da COP29 é financiamento”. Como no Brasil, que preside a COP30, de 2025, em Belém, o foco será a adoção de compromissos nacionais de redução de emissões mais robustos.
Marina minimizou impactos da eleição do presidente americano Donald Trump sobre as negociações globais de enfrentamento às mudanças climáticas. “A governança climática global sempre funcionou sem a presença dos Estados Unidos, afirmou.
Ela disse que a própria indústria americana pode ser um contraponto à visão de Trump, já que é a principal beneficiada pelo programa de investimentos ambientais posto em prática pelo governo Joe Biden.