A análise de uma pequena porção da amostra trazida pela sonda chinesa Chang’e-6 do lado afastado da Lua revela que houve vulcanismo ativo por lá há cerca de 2,8 bilhões de anos.
O achado vem um grande grupo de pesquisadores da Academia Chinesa de Ciências liderado por Yi-Gang Xu e Le Zhang, em colaboração com apenas dois cientistas dos EUA, James Head III, da Universidade Brown, e Clive Neal, da Universidade de Notredame.
Os resultados, publicados na última sexta-feira (15) na revista científica americana Science, estão entre os primeiros a trazer revelações que ajudam a compreender por que a Lua tem duas faces tão diferentes. No lado próximo, aquele que podemos ver aqui da Terra, há grande presença das regiões conhecidas como mares, antigas planícies submersas em lava de erupções vulcânicas, respondendo por 30% da superfície (são as manchas escuras que podem ser vistas mesmo a olho nu), enquanto no lado afastado, sempre oculto para quem está aqui embaixo, os mares ocupam apenas 2% do terreno, predominando solos mais antigos e acidentados.
O consenso científico, com base principalmente nas amostras colhidas pelas missões Apollo (EUA) e Luna (URSS), todas no lado próximo, sugere que a maior parte da atividade vulcânica lunar teria cessado cerca de 3 bilhões de anos atrás, o que coloca o resultado obtido pela Chang’e-6 um pouco fora dessa expectativa.
É verdade que a própria Chang’e-5, colhendo amostras de um mar do lado próximo, mostrou que há de fato exceções significativas, com a detecção de rochas vulcânicas com no máximo 2 bilhões de anos –mais novas, portanto, que as colhidas pela Chang’e-6.
Contudo, uma diferença notável entre elas é que as do lado próximo eram ricas em isótopos radioativos conhecidos pela sigla Kreep, que incluem potássio, fósforo e terras raras –elementos que, pela capacidade de gerar calor, ajudam a explicar a atividade vulcânica mais recente.
Esse, contudo, não é o caso das amostras da Chang’e-6, que revelam baixa presença de isótopos radioativos. Isso torna mais difícil explicar o que teria viabilizado a atividade vulcânica na região. Em compensação, é consistente com a ideia de que o manto do lado afastado, de forma geral, é empobrecido nesses elementos radioativos, teria muito menos regiões vulcânicas capazes de produzir os mares.
As conclusões vieram a partir da análise de cerca de apenas dois gramas dos cerca de dois quilos trazidos à Terra pela sonda da bacia Polo Sul-Aitken, no lado afastado lunar. Representam, portanto, apenas uma pequena parte de toda a história que essas amostras ainda têm por contar sobre a evolução da Lua desde sua formação, há 4,5 bilhões de anos.
A datação do terreno foi feita a partir do decaimento de isótopos de chumbo, indicando que ao menos parte das rochas vulcânicas da região se formou há 2,83 bilhões de anos (com margem de erro de 5 milhões para mais ou para menos). Esse processo de datação só pode ser feito com a coleta de amostras e, por isso mesmo, os cientistas só os têm de alguns poucos lugares da Lua. Mas esses resultados ajudam a calibrar a estimativa da idade de outros terrenos por meio da contagem de crateras (quanto mais antigo, mais esburacado pelo impacto de asteroides e meteoroides).
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, em Ciência.
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