Uma nova temporada de futebol começará em 27 de setembro: não a Premier League ou a La Liga, mas a atualização anual do videogame de futebol favorito do mundo. “Fifa”, como a franquia era conhecida desde sua estreia pixelada em 1993, vende quase 30 milhões de cópias por ano.
Os gastos dentro do jogo elevam sua receita anual acima de US$ 3 bilhões (R$ 17,4 bilhões), estima a MoffettNathanson, uma empresa de analistas, que calcula que o título contribui com quase dois terços do lucro de sua distribuidora, a Electronic Arts (EA). Poucos nomes no mundo dos jogos são maiores que “Fifa”.
No entanto, há um ano, a EA mudou o nome de seu megassucesso para “EA Sports FC”, após o rompimento do acordo de licenciamento com a Fédération Internationale de Football Association, o órgão governante do futebol. A fifa teria exigido mais do que os cerca de US$ 150 milhões (cerca de R$ 868 milhões) que cobrava anualmente da EA pelo privilégio de usar seu nome. A EA decidiu, em vez disso, embarcar no que Andrea Hopelain, que dirige o negócio de publicação de jogos esportivos da empresa, chama de “uma das maiores rebrandings da história do entretenimento”.
A aposta parece ter dado certo. A EA relatou em julho que a receita do jogo aumentou em “dígitos médios” em comparação com a edição anterior, que era usada com a marca Fifa. A EA Sports já havia se tornado uma marca forte por si só, diz a Sra. Hopelain; árbitros ingleses têm seu logotipo nas mangas há anos. Uma blitz de marketing a tornou ainda mais forte: o dinheiro que iria para a Fifa foi gasto em promoções como o patrocínio da liga espanhola (agora chamada “LaLiga EA Sports”). Sony e Microsoft também tinham motivos para manter o jogo renomeado visível em suas lojas de aplicativos PlayStation e Xbox. Ele representa até 10% dos gastos nas plataformas (das quais eles recebem uma parte), estima Clay Griffin da MoffettNathanson.
Abandonar o nome Fifa trouxe outras oportunidades. A EA pôde trabalhar mais de perto com parceiros como Nike e Pepsi, que haviam sido deixados de lado pela relação da Fifa com seus arquirrivais Adidas e Coca-Cola. A EA também teve mais liberdade para inovar. Os jogadores agora podem compartilhar destaques em vídeo de suas façanhas futebolísticas uns com os outros dentro do jogo e em breve poderão comprar mercadorias de marcas como Nike para combinar com as roupas digitais de seus avatares.
A Fifa vai reagir? Em maio, Gianni Infantino, seu chefe, disse que estava trabalhando em um jogo rival que “obviamente, como tudo o que fazemos, será o melhor”. No entanto, a Take-Two, uma desenvolvedora de jogos que supostamente estaria envolvida, esfriou a ideia no mês passado. A Konami, que faz o eFootball, um jogo gratuito que é grande no mobile, é outro possível parceiro.
Qualquer rival terá dificuldade em superar a EA. Décadas de incumbência criaram poderosos efeitos de rede, à medida que os jogadores competem com seus amigos online. A EA teceu uma rede de acordos de licenciamento com jogadores, clubes e ligas, alguns deles exclusivos, custando centenas de milhões por ano. Esses fatores fazem do esporte um gênero em que o vencedor leva a maior parte no mundo dos jogos, argumenta o Sr. Griffin: o título de basquete da EA, “NBA Live”, foi esmagado pelo “NBA 2K” da Take-Two pelas mesmas razões. Com ou sem a Fifa, o jogo de futebol da EA será difícil de enfrentar.