A demanda crescente por soluções climáticas está diretamente relacionada à redução de emissões nos setores produtivos. Para Roberto Azevêdo, ex-diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), as empresas só poderão atingir suas metas a partir de mercados de carbono bem regulados e com preços justos.
“Zerar as emissões sem mecanismos de compensação é praticamente impossível para a grande maioria dos setores econômicos”, disse Azevêdo durante painel que discutiu economia circular na Lide Brazil Conference Lisboa, uma iniciativa de Lide, Folha e UOL, realizada nesta sexta-feira (15), na capital portuguesa.
“Essa demanda global, o crédito de carbono, vai crescer exponencialmente, e o Brasil tem tudo para se posicionar de uma maneira muito positiva nesse espaço”, acrescentou ele, que é o atual presidente global de operações da Ambipar, multinacional brasileira que atua no setor de gestão ambiental. O potencial brasileiro está associado ao amplo uso de fontes de energia renováveis, principalmente de hidrelétricas e de biocombustíveis.
A capacidade de produção de hidrogênio verde foi outra questão estratégica apresentada pela ex-ministra do Meio Ambiente (2010-2016) Izabella Teixeira, que participou da mesa por videoconferência diretamente de Baku, no Azerbaijão, onde acompanha a COP29.
Co-presidente do Painel Internacional de Recursos da ONU, ela ressaltou o papel do setor de energia para o Brasil assumir a liderança de uma agenda concentrada na resiliência climática aliada ao desenvolvimento e crescimento econômico e à justiça social. Também citou boas perspectivas em relação à captura de carbono por altas tecnologias, além das soluções baseadas na natureza.
“É importante que o Brasil se coloque como um país provedor de soluções. É por aí que a transição energética brasileira precisa ser colocada”, disse. Teixeira ainda defendeu a superação de conflitos ideológicos. “Não se trata de direita ou esquerda, trata-se de interesse nacional. E as soluções climáticas passam pelo conjunto de interesses nacionais.”
Uma perspectiva mais acadêmica foi apresentada por Margarida Quina, professora de engenharia química da Universidade de Coimbra e diretora do Centro de Engenharia Química e Recursos Renováveis para a Sustentabilidade (Ceres). A docente esclareceu que economia circular não se resume a reciclagem e lembrou que a sustentabilidade está obrigatória e essencialmente atrelada à economia e à sociedade.
“No fundo, [economia circular] é imitar a natureza, mas a nível industrial”, explicou. “Mas não vale a pena insistir em tecnologias que tenham abordagens interessantes do ponto de vista ambiental e não sejam viáveis economicamente.”
Também participaram do painel Patrícia Iglecias, professora de direito ambiental da USP, e Hélio Costa, presidente do conselho da distribuidora de energia Light e ex-ministro das Comunicações (2005-2010).
A mediação foi feita por Carlos Marques, presidente do Lide Conteúdo, e por Murilo Garavello, diretor de conteúdo do UOL.