Em meio à perspectiva de um governo Trump antimultilateralismo, crítico do combate à desinformação e cético das mudanças climáticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai anunciar na próxima terça-feira (19), em discurso na cúpula do G20, o lançamento de um fundo para combate à desinformação climática em parceria com a ONU e a Unesco.
Chamado de iniciativa global para a integridade da informação sobre mudança climática, será um fundo que irá direcionar recursos para pesquisas sobre desinformação a respeito do tema, bem como campanhas de esclarecimento e ações diplomáticas. A iniciativa estará aberta à adesão dos países e já tem o apoio do Chile, Marrocos, Reino Unido, Portugal e Suécia.
Em seu discurso, Lula deve mencionar a ameaça representada pelo negacionismo climático e pela desinformação e a aliança do Brasil com ONU e Unesco para combater o aquecimento global, segundo apurou a Folha.
A estrutura é vista como um trampolim para uma iniciativa multilateral mais ambiciosa de combate à desinformação em diversas áreas e temas.
Dentro do governo brasileiro, a iniciativa é considerada estratégica também por causa do contexto político. O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, já anunciou que fará uma ofensiva contra o combate à desinformação na internet, que chama de “sistema podre de censura e controle de informação”.
“Precisamos destruir a tóxica indústria da censura que surgiu sob o disfarce de combate à desinformação”, disse Trump em vídeo republicado no X no sábado (9) por Elon Musk, bilionário dono da plataforma que foi nomeado pelo republicano para chefiar uma nova divisão no governo.
Congressistas republicanos, Trump e Musk têm afirmado que há uma iniciativa da esquerda para censurar vozes conservadoras sob a desculpa de combate à desinformação. Segundo ele, plataformas, ativistas de esquerda e funcionários técnicos do governo “colaboram para suprimir informações cruciais, de eleições a saúde pública”. Trump anunciou que vai cortar todo financiamento para projetos de combate à desinformação e bloquear recursos para universidades que fazem esse tipo de pesquisa.
“O momento político torna ainda mais relevante uma ação que combine o enfrentamento à desinformação e o reforço a estratégias de comunicação para mostrar a urgência de a sociedade enfrentar as mudanças do clima”, diz João Brant, secretário de Políticas Digitais da Presidência. “Os países comprometidos com a integridade da informação e com o enfrentamento às mudanças climáticas não têm como agir sozinhos, precisamos de uma ação coordenada.”
O governo brasileiro também usa a iniciativa na preparação para a COP30, em Belém, em 2025. Como Trump já anunciou que vai aumentar a exploração de petróleo e se opõe a incentivos à transição energética —além de ter retirado os EUA do Acordo do Clima de Paris em seu primeiro mandato e prometer fazer o mesmo no segundo— o governo brasileiro não espera nenhuma cooperação de Washington nessa área.