As emissões globais de dióxido de carbono, que principal causa da mudança climática, estão prestes a atingir um recorde histórico este ano, segundo um estudo publicado nesta quarta-feira (13).
O relatório Orçamento Global de Carbono, publicado durante a COP29, cúpula das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, no Azerbaijão, aponta que as emissões globais de CO₂ devem totalizar 41,6 bilhões de toneladas em 2024, um aumento de cerca de 2,5% em relação aos 40,6 bilhões de toneladas do ano passado.
A maior parte dessas emissões (90%) vem da queima de carvão, petróleo e gás, que devem totalizar 37,4 bilhões de toneladas até o final do ano, um aumento de 0,8% na comparação com 2023, segundo o relatório. O restante vem do uso da terra, categoria que inclui desmatamento e incêndios florestais.
“Não vemos um sinal de que as emissões de combustíveis fósseis atinjam o pico em 2024″, disse Pierre Friedlingstein, principal autor do estudo e cientista climático da Universidade de Exeter, instituição que liderou o grupo de mais de 80 entidades que participaram da elaboração do relatório.
Friedlingstein afirmou, ainda, que sem cortes imediatos e acentuados nas emissões em todo o mundo a humanidade não apenas superará o limite de aquecimento de 1,5°C, como ele será ultrapassado.
No Acordo de Paris, em 2015, os quase 200 países signatários se comprometeram a unir esforços para impedir que as temperaturas globais subam mais de 1,5°C para evitar os piores impactos das mudanças climáticas.
Isso exigiria cortes acentuados nas emissões todos os anos até 2030, no mínimo. Em vez disso, as emissões de CO₂ aumentaram na última década, puxadas pelo crescimento na queima de combustíveis fósseis.
As emissões do uso da terra haviam diminuído nesse período —até este ano, quando uma seca severa na Amazônia causou incêndios florestais, elevando as emissões anuais do uso da terra em 13,5%, chegando a 4,2 bilhões de toneladas.
Alguns cientistas disseram que esse progresso lento significa que a meta de 1,5°C não pode mais ser realisticamente alcançada.
Os dados de emissões deste ano mostraram evidências de alguns países expandindo rapidamente a energia renovável e os carros elétricos, disseram os autores. O progresso, no entanto, foi acentuadamente desigual —com as emissões das nações ricas e industrializadas diminuindo, enquanto as emissões das economias emergentes continuam a subir.
As tensões entre os países eclodiram na terça-feira (12) na COP29, como parte do debate sobre quem deve liderar a transição dos combustíveis fósseis, que são a fonte de cerca de 80% da energia global.
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, acusou os países ocidentais de hipocrisia por pregarem aos outros enquanto ainda são grandes consumidores e produtores de combustíveis fósseis.
As emissões nos EUA, o maior produtor e consumidor de petróleo e gás do mundo, devem diminuir 0,6% este ano, enquanto as emissões da União Europeia devem cair 3,8%. Enquanto isso, as emissões da Índia aumentarão 4,6% este ano, impulsionadas pela crescente demanda por energia alimentada pelo crescimento econômico.
As emissões na China, hoje o maior emissor do mundo e o segundo maior consumidor de petróleo, devem aumentar marginalmente em 0,2%. Os autores disseram que, à medida que os veículos elétricos ganham participação de mercado, as emissões da China provenientes do uso de petróleo provavelmente atingiram o pico e devem começar a cair a partir de agora.
As emissões da aviação e navegação internacionais também devem saltar 7,8% este ano, à medida que o tráfego aéreo continua a crescer após uma brusca queda na demanda durante a pandemia de Covid-19.