Se o estilo de cabelo da sua juventude incluía presilhas de fio, xuxas e tiaras com dentes, você provavelmente já tem alguns fios brancos. Bem-vindo ao clube. Encontrei meu primeiro fio branco nos meus 20 anos e desde então pintava o cabelo de castanho escuro com frequência crescente, por 25 anos. Seis meses atrás, percebi que era como um homem com penteado disfarçando a calvície —ou seja, não estava enganando ninguém —e parei de pintar o cabelo de vez.
Na verdade, não foi tão simples assim. Fiquei em dúvida, sofri e entediei todos ao meu redor com dilemas dignos de um astronauta prestes a pousar na Lua.
Eu conhecia os benefícios de pintar o cabelo e os de deixá-lo natural. O que eu não conseguia aceitar era o processo de crescimento. Eu realmente teria que andar por aí parecendo uma montanha nevada por dois anos?
Felizmente, há centenas de perfis no Instagram dedicados ao grisalho de mulheres que parecem muito mais habilidosas com tranças e filtros do que eu. Apreciei a “inspiração” (isso ainda é um termo?), mas queria saber o que se passava na cabeça dessas mulheres. Aqui está o que se passa na minha:
— Não me sentia tão autoconsciente desde o uso de aparelho na sexta série.
— Não me sentia tão livre desde que tirei minha carteira de motorista.
— O cabelo cresce muito, muito devagar.
— Fios prateados tendem a ser grossos e rebeldes, muitas vezes apontando para cima. Estou cultivando um novo tipo de planta, mais glicínia do que filodendro.
— O dinheiro que economizo com tintura é reinvestido em tiaras, chapéus, condicionador leave-in, xampu azul e um tratamento de queratina feito por uma cabeleireira cuja avó também está deixando o cabelo grisalho. (Ela não quer lidar com manutenção ao se mudar para uma casa de repouso.)
— O tempo que economizo foi sugado para um vórtice cósmico, provavelmente aproveitando o sol ao lado de todos os meus elásticos de cabelo perdidos.
— Sentar no salão durante a correria de sábado era minha versão de estar no vestiário antes do grande jogo. Sinto falta disso.
— Fico surpresa com quantas pessoas perguntam o que meu marido acha do meu cabelo. Ninguém pergunta o que eu acho do dele, que está sal e pimenta e bastante elegante.
— Minhas filhas são benevolentemente solidárias, mas alongam a última sílaba dos elogios de uma forma que me deixa desconfiada: “Você está linda!” e “O grisalho está incrível!” Duvido que passariam no detector de mentiras.
— Meu filho diz que estou parecendo o personagem Paulie Walnuts, da série Sopranos.
— Minha mãe, que nunca pintou o cabelo e sempre foi contra, franze os olhos para minhas raízes e pergunta: “Você tem certeza disso?” Isso foi confuso até eu perceber que sua reação é semelhante à que tive quando minha filha mais velha me mostrou a bolsa estilosa que comprou para o primeiro emprego. Tudo o que pensei foi: “O que aconteceu com sua lancheira de borboleta?”
— Alguns amigos dizem: “Uau! Você está realmente fazendo isso!” Tradução: Não são fãs, mas educados demais para dizer.
— Pior ainda: quando os olhos desviam para minha linha do cabelo e nenhum comentário surge.
— Todo mundo tem um vizinho que ficou grisalho e está deslumbrante.
— Deveria ficar loira? Usar peruca? Cobrir a raiz com spray? (Não, porque não quero estragar meus chapéus ou arriscar que escorra na chuva.)
— Homens carecas são os melhores. Eles entendem.
— Minhas roupas coloridas parecem pertencer à irmã mais nova que nunca tive. Adoro, mas não quero usar seu vestido verde papagaio ou seu suéter de bolinhas rosa. Já tenho um ponto chamativo no topo da cabeça.
— Sou gentil com meus 5 cm de cabelo branco. Em vez de passar calor e alisar, aplico produtos chamados “Infusão Suave” e “Capa dos Sonhos”.
— Dois meses depois, considero enviar um e-mail para toda a equipe explicando minha estratégia de longo prazo. Quando menciono isso à minha chefe, ela responde: “Oh, Liz, acho que isso não será necessário.”
— Quatro meses depois, vejo meu reflexo e penso: Quem é essa senhora com quipá de cetim branco? Então compro uma TV para meu filho porque a seção de eletrônicos tem menos superfícies reflexivas e fiquei com um nó na garganta ao vê-lo organizando canecas no apartamento novo.
— Seis meses depois, vou a uma festa de aniversário. No dia seguinte, a anfitriã manda uma selfie do grupo, alguns artigos discutidos e uma reflexão sobre a sorte de nos conhecermos há quase 20 anos. Resisto ao impulso de dar zoom no meu cabelo.
— Minhas sobrancelhas assumiram um papel central no rosto. Tentada a culpar a colega que me apresentou à cera nos anos 90, lembro que ela também foi uma das primeiras a falar sobre sutiãs bem ajustados.
— Compro gel, lápis e sérum para as sobrancelhas. Agora pareço o Eugene Levy.
— Sabe como donos de Jeep fazem um sinal quando se cruzam? É assim que me sinto ao ver estranhos grisalhos na rua. Alguns sorriem como quem diz “Te vejo.” Outros parecem dizer: “Fale comigo quando tiver o cabelo todo branco.”
— Eu costumava reclamar de ser invisível. Agora, a recepcionista do hotel lembra-se do meu quarto dois dias após o check-in. Quando digo “Não acredito que você lem…,” ela aponta para sua linha do cabelo.
— Normalmente aviso meus amigos antes de vê-los: “Só para você saber, meu cabelo está estranho.” Um dia, esqueço e uma amiga aparece com seu próprio novo crescimento grisalho. Rimos juntas.
— Um garçom em uma pizzaria diz: “Cabelo legal.” Quase choro de gratidão.
— Agora que não me preocupo com o sal ou o cloro arruinando minha tintura, lembro de como amo nadar.
— Caminho de volta da praia com minha mãe e irmã e percebo que, além do cabelo branco, temos bons pés, opiniões fortes e gosto por vinho. Um desses é mais importante que os outros e espero ter passado isso para meus filhos.
— Não é preciso estar em ótima forma. Não é preciso usar batom marcante. Não é preciso explicar por que decidiu deixar o cabelo natural. Não precisa gostar de como ele está. Não precisa poupar ninguém de ver.
— Você sempre pode mudar de ideia.