Estamos em meio a uma crise climática que não ameaça apenas o ambiente, mas coloca em risco a saúde e a sobrevivência de milhões de brasileiros. Essa realidade foi abordada de maneira contundente no painel Mudanças Climáticas e Saúde: Impactos e Soluções, realizado na Unifesp, na última semana, quando especialistas expuseram dados alarmantes e exigiram respostas urgentes.
Participaram do evento pesquisadores, representantes da sociedade civil e do governo mobilizados pela causa, como a coordenadora-geral do SoU_Ciência, Soraya Smaili, que iniciou, durante sua gestão como reitora da Unifesp, o Centro de Saúde Global, e posteriormente atuou para a criação do Ciência na Saúde e do Cepid ARIES. Também estiveram presentes Ana Estela Haddad, Secretária de Informação e Saúde Digital do Ministério da Saúde, Paulo Saldiva e Paulo Artaxo, professores da USP, e Luísa Helena Trajano, presidente do Grupo Mulheres do Brasil, corresponsável pelo evento.
Diante do fato de que as mudanças climáticas são uma realidade urgente, a discussão se manteve centrada em como a população, principalmente a mais pobre, paga o preço dessa crise. São essas pessoas que estão expostas a doenças respiratórias, cardiovasculares e infecciosas, que são agravadas pelo aquecimento global e pela poluição do ar, dos rios e mares e dos solos. Como destacou Paulo Saldiva em suas análises, um aumento de 5 °C na temperatura média de São Paulo trará uma sobrecarga ao SUS de até 50%, e os mais afetados serão crianças e idosos.
Estamos à mercê de interesses de curto prazo, enquanto os impactos climáticos se tornam cada vez mais visíveis. Precisamos de um pacto nacional e de leis efetivas que permitam a aplicação das políticas de contenção e de mitigação dos danos causados pelas mudanças climáticas. O convite é claro e é para todos os governos (federal, estaduais e municipais) e parlamentares.
As lições da pandemia ainda estão presentes e temos que aprendê-las, como destacou Soraya Smaili, a partir do Painel as universidades em defesa da vida (SoU_Ciência), as populações sem acesso a saneamento básico, vivendo em áreas de risco e expostas à poluição são as que mais sentem os efeitos das mudanças climáticas.
A mobilização popular, representada por figuras como Luiza Helena Trajano, tem sido uma faísca de esperança. Durante o painel, ela falou da experiência com a campanha Unidos pela Vacina, que auxiliou mais de 4 mil municípios brasileiros com R$ 52 milhões para agilizar a vacinação contra a covid-19, em 2021, e reforçou que é possível unir esforços por uma causa maior.
Como apontado no evento, a população está cansada de diagnósticos e precisa de soluções, como políticas públicas para reduzir emissões na agricultura e pecuária, eliminação do desmatamento, adaptação do sistema de saúde às realidades locais, promoção da saúde planetária e criação de uma rede de saúde global com universidades federais brasileiras para coleta de dados, prevenção de epidemias e formulação de políticas públicas.
A crise climática e de saúde exige mais do que discursos. Podemos continuar perpetuando essa negligência que coloca a população em risco, ou podemos transformar o país em um exemplo de liderança ambiental e social. Mas essa escolha precisa ser feita agora
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