O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve deixar a decisão pelo nome que presidirá a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática), que será realizada em Belém (PA), para o início do ano que vem, segundo auxiliares.
Lula era esperado na COP29, que está em andamento em Baku, no Azerbaijão, mas teve de cancelar por recomendação médica, após cair e bater a cabeça. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) foi escalado para representar o país.
A ida do também ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço para a COP aumentou especulações em torno de sua indicação, que sofre resistência de alguns setores do governo petista.
O nome do vice-presidente acirrou ainda mais a briga pelo cargo. Ele concorre ao cargo com a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) e o secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, André Corrêa do Lago.
Há tradição de anúncio da futura presidência da COP até o encerramento da conferência atual, previsto para 22 de novembro. Apesar disso, auxiliares de Lula apostam que o anúncio ficará para o próximo ano.
O Planalto fez até mesmo um levantamento de casos anteriores para embasar o adiamento da escolha. Segundo integrantes do governo, a maior parte dos presidentes de COP foi indicada no ano do evento.
Com o adiamento, o presidente empurra a disputa no primeiro escalão do governo para o ano que vem. Neste ano, Lula está envolvido com a reunião de cúpula do G20, o grupo das maiores economias, no Rio de Janeiro. No plano doméstico, discute a agenda de corte de gastos federais.
Segundo colaboradores de Lula, o chefe do Executivo só faria anuncio ainda neste ano se já houvesse consenso em torno de algum nome. Além disso, prevalece a avaliação de que a indicação em Baku, durante a COP29, poderia ser indelicada com os azeris, por desviar a atenção para o Brasil.
Lula cancelou a sua ida para a COP29 após sofrer um acidente doméstico, que teve como consequência a recomendação médica para evitar viagens. O Planalto também divulgou que o presidente priorizaria a agenda interna e os preparativos para a reunião de chefes de Estado do G20, no Rio.
Alckmin mantém agenda bilateral em Baku. Encontrou-se com o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas) e também discursou na tribuna da COP29.
“O sucesso da COP29 é parte fundamental para o sucesso da COP30, que teremos o orgulho de se sediar em Belém, no Brasil, e também para a resposta global à mudança do clima. A omissão de agora custará muito para o depois”, disse na plenária na manhã desta terça (12).
Aliados do vice-presidente afirmam que a sua indicação para representar o Brasil é uma sinalização de que ele se tornou um nome forte para ocupar a presidência da COP de Belém. Argumentam que a escolha daria um peso político maior para o evento e que seu jeito conciliador e político seria um ativo para o Brasil nas negociações climáticas.
O tom da participação de Alckmin na conferência em Baku será de trazer a discussão ambientalista ainda mais para o setor industrial e produtivo. Para aliados, ele pode trazer um teor econômico maior para o posto, se vier a assumi-lo.
Além disso, o seu nome também encerraria a disputa entre Ministério das Relações Exteriores e Meio Ambiente. Os diplomatas defendem o embaixador André Corrêa do Lago, especialista em meio ambiente e questões climáticas.
O Ministério do Meio Ambiente pressiona pela própria ministra Marina Silva, que combina a especialidade no tema com o peso de ser uma ministra de estado com reconhecimento internacional.
O MMA também cogitou indicar a secretária de Mudança do Clima, Ana Toni. No entanto, ela enfrenta resistência entre petistas que integram o governo, que a acusam de tendência liberal. Toni é cotada para o segundo cargo da hierarquia da cúpula, uma espécie de executiva da COP30.
Um interlocutor no governo também aponta que a possível indicação de Alckmin poderia entrar nos cálculos de reforma ministerial. O argumento é que seria difícil para ele conciliar a agenda de presidente da COP30, que inclui dezenas de viagens, com as atividades na vice-presidência e como ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Há ainda a visão de que a presidência da COP poderia ser uma recompensa ou o resultado de uma negociação em torno da liberação da titularidade do Mdic. A pasta é bastante cobiçada, pela proximidade com o empresariado e por sua visibilidade.
Os defensores de Corrêa do Lago alegam que o cargo é essencialmente diplomático e demanda dedicação exclusiva. Além disso, desde a criação da troika —uma instância que reúne os país que preside a COP no momento, o antecessor e o sucessor— fará com que o escolhido por Lula mantenha-se na função até 2027.