Especialista em inovação da universidade Stanford, nos Estados Unidos, o professor Henry Eztkovitz afirma que cidades atingidas por catástrofes naturais deveriam evitar reconstruir áreas devastadas nos mesmos locais. Em vez disso, defende que elas promovam um “redesenho” de suas estruturas urbanas.
“Não existem desastres naturais. Qualquer desastre natural é resultado da intervenção humana na natureza”, afirmou nesta terça-feira (12), em evento sobre o tema promovido pela Marinha do Brasil no Rio de Janeiro.
“Devemos pensar muito cuidadosamente, em muitos casos, antes de reconstruir, porque estaremos reconstruindo algo que nunca deveria ter sido construído. E se reconstruirmos, podemos nos preparar para que aconteça novamente.”
Etzkovitz é o criador da teoria da hélice tripla, que identificou nos anos 1980 que a colaboração universidade, governo e empresa é o principal motor da inovação. Hoje, preside o Instituto Triple Helix, com sede em Palo Alto, na Califórnia.
A teoria é usada pela Marinha para tentar agregar forças em torno de medidas de prevenção e reparação de desastres. Nesse sentido, reuniu no Rio nesta terça indústria, universidades e instituições de fomento governamentais, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
“Os desastres naturais têm ocorrido com frequência assustadora”, afirmou o comandante-geral do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha, almirante Carlos Chagas. “As forças armadas em geral têm estado na ponta de lança de todas essas respostas, não só no Brasil”.
Etzkovitz foi convidado para falar sobre a teoria. Defendeu maior coordenação regional não só para planejar a reconstrução de áreas atingidas mas também para avaliar remoções em casos de risco, o que chamou de hélice tríplice cívica.
“Existem muito poucos desastres naturais por si só. Talvez alguns dos asteroides que caem, possamos dizer que são desastres naturais puros. Mas quando pessoas constroem ao lado de rios, estão intervindo na natureza. E quando você constrói perto da costa, você está intervindo”, afirma.
O secretário nacional de Defesa Civil, Wolney Wolff Barreiros, concordou: “Não dá para fazer reconstrução de moradias ou casas que foram destruídas”, afirmou, citando o caso do município de Cruzeiro do Sul, um dos mais atingidos pelas chuvas de maio.
“[A cidade] tinha um bairro com 450, 480 moradias, todas destruídas. É impossível pensar que vamos gastar dinheiro público para construir casas naquela mesma área”, disse. “Prevenção não se faz apenas com medidas estruturais. É preciso repensar políticas territoriais”.
Barreiros citou estudo da ONU (Organização das Nações Unidas) que estima que, para cada US$ 1 investido em prevenção, US$ 8 são economizados em reparação de desastres. Mas disse que o Brasil “ainda está engatinhando” em cultura de prevenção, já que o marco legal do setor é de 2012.
O governo se inspira no Japão para propor aos municípios afetados pelas chuvas no Sul modelos de ocupação das áreas afetadas, com a implantação de parques nas margens dos rios e muros de contenção para conter alagamentos.
A Secretaria Nacional de Defesa Civil finaliza um plano para a primeira instalação no país de barreiras permeáveis para segurar detritos em enxurradas em rios de áreas de grande risco, inspiradas em equipamentos comuns no país asiático.
Os dois primeiros equipamentos estão previstos para Teresópolis e Nova Friburgo, na região serrana do Rio, frequentemente castigadas pelas chuvas. Esses equipamentos funcionam como uma espécie de rede, que permitem a passagem da água mas seguram detritos como rochas e troncos de árvore.
Os projetos estão em fase final e a expectativa do governo é que sejam licitados pelo governo do Rio em 2025. As obras terão recursos do governo federal e a ideia é replicar o modelo em outras partes do país, disse Barreiros.