A morte do corretor de imóveis e empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach na última sexta-feira (8), no Aeroporto Internacional de Guarulhos, trouxe à tona investigações contra supostos membros da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e da polícia. Em acordo de delação premiada, ele havia denunciado mais de um esquema de corrupção.
Entre os casos delatados estava um sequestro que ele alegava ter sofrido em 2022, a suposta participação do PCC na contratação de jogadores de futebol, e esquemas de corrupção na Polícia Civil.
A investigação do caso segue três grupos que poderiam ter interesse em sua morte: o próprio PCC, policiais citados em sua delação premiada, ou a pessoa que entregou a ele joias avaliadas em R$ 1 milhão na viagem da qual ele voltava.
Abaixo, estão algumas das pessoas implicadas nas investigações do caso e na delação que Gritzbach fez meses antes de morrer.
Cara Preta e Sem Sangue
Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, foi morto num ataque a tiros em dezembro de 2021 e é identificado como liderança do PCC em investigações da Polícia Civil e do Ministério Público. Antônio Corona Neto, o Sem Sangue, era motorista de Cara Preta e morreu no mesmo ataque.
O corretor teria sido contratado por Cara Preta para investir o dinheiro em criptomoedas. Uma investigação apontou que o duplo assassinato foi fruto de “desavenças financeiras”, e que US$ 100 milhões que pertenciam a Cara Preta teriam sumido após terem sido confiados a Gritzbach.
Essa versão era contestada pelo empresário morto no aeroporto, que acusou a equipe policial responsável pela investigação de praticar crimes. Gritzbach negava ter participado do homicídio, mas admitia seu papel em esquema de lavagem de dinheiro do PCC.
Fabio Baena
É delegado da Polícia Civil. Baena foi citado no acordo de delação premiada de Gritzbach, que acusou o delegado e “toda sua equipe” de praticar “ilicitudes e arbitrariedades”.
Baena foi o delegado responsável por investigar o assassinato de Cara Preta e Sem Sangue. Além disso, abriu um inquérito para investigar também uma denúncia de Gritzbach, que alegou ter sido sequestrado por três homens ligados ao PCC e submetido a um “tribunal do crime” em 18 de janeiro de 2022. A motivação seria a morte de Cara Preta e o sumiço do dinheiro.
O delegado chamou os três implicados e outras testemunhas a prestar depoimento, todos negaram qualquer conhecimento do sequestro. O investigação do sequestro acabou arquivada, após a polícia alegar que não havia provas.
Conforme mostrou a Folha, a forma como a investigação das mortes de Cara Preta e Sem Sangue foi conduzida teria desagradado a integrantes da cúpula da polícia, o que levou à transferência de toda a equipe de Baena do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Na época, não havia ainda a expectativa da delação do empresário.
O documento de homologação do acordo de Gritzbach aponta que ele teria indicado indícios de concussão (quando funcionário público exige vantagem indevida) e corrupção passiva . Essas acusações, que ainda precisariam ser investigadas, são direcionadas não apenas a Baena e à equipe do DHPP mas também a policiais do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) e 24º DP (Ponte Rasa),
Ahmed Hassan Saleh
É advogado e sócio da UPBus, empresa de ônibus que foi alvo da operação Fim da Linha, que investigava a relação entre concessionárias do transporte de ônibus municipal e o PCC.
Advogados de Gritzbach afirmam que ele teria oferecido R$ 3 milhões pela cabeça do delator. O delator teria gravado um telefonema de Hassan a um policial, em que oferece o pagamento.
Hassan foi preso em 7 de agosto deste ano, junto com outras 19 pessoas investigadas por lavagem de dinheiro da facção criminosa. Ele acabou solto no mesmo dia.
Cara Preta, assassinado a tiros num crime atribuído a Gritzbach, era sócio da UPBus assim como Hassan.
Danilo de Lima Oliveira
É empresário de jogadores. Foi citado por Gritzbach em delação premiada sobre a suposta participação do PCC na contratação de atletas da elite do futebol brasileiro e mundial. Gritzbach também o acusou de participar de seu sequestro em janeiro de 2022.
Conhecido como Tripa, Danilo de Lima Oliveira era investigado pela Polícia Civil desde o início de 2022, como mostrou a Folha. Na época, um elo dele com o PCC já teria sido apontado pela polícia. Segundo Gritzbach, ele participava de um esquema que lavava de dinheiro do tráfico de drogas na aquisição dos atletas, por meio de empresas agenciadoras de jogadores de futebol.
Em depoimento à polícia, disse que era amigo de infância de Cara Preta, e que tinha conhecimento sobre as relações financeiras entre os dois. Ele negou qualquer participação no suposto sequestro de Gritzbach.
Rafael Maeda Pires, o Japa
O corretor também identificou Rafael Maeda Pires, o Japa, como participantes do sequestro. Segundo a delação, ele teria participação nas empresas agenciadoras de jogadores de futebol.
Japa acabou morto em agosto deste ano. Em delação, Gritzbach disse que ele e Japa haviam participado do descarte do corpo de outro integrante do PCC: Claudio Marcos de Almeida, o Django, assassinado em guerra interna do PCC.
Claudio Marcos de Almeida, o Django
É “notório integrante da facção criminosa” PCC, segundo o Ministério Público de São Paulo. Django tinha contratado os serviços de Gritzbach. Segundo denúncia do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), o corretor indicou familiares para figurarem como “laranjas” de Django na compra de imóveis no condomínio Riviera de São Lourenço, em Bertioga, no litoral paulista.