A criptorquidia ou testículo não descido é uma malformação congênita comum em meninos. A condição afeta até 45% dos bebês prematuros e 4% dos nascidos no tempo normal de gestação, segundo a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia). A falta de tratamento ou diagnóstico tardio aumentam o risco para câncer de testículo e infertilidade.
O diagnóstico pode ser feito apenas por exame físico assim que o bebê nasce e o tratamento, por meio de cirurgia, deve ser feito o quanto antes. Mas a condição tem sido identificada com frequência após os 18 meses de vida da criança.
De acordo com dados levantados pela SBU com o Ministério da Saúde, de janeiro de 2023 a agosto de 2024, foram diagnosticados 21.193 casos de testículos não descidos no Brasil, sendo a maioria (7.658) em idades entre 1 e 4 anos, seguido pela faixa etária entre 5 e 9 anos (6.509).
No mesmo período foram realizadas 16.443 orquidopexias (cirurgia para corrigir a posição anormal dos testículos), sendo 4.721 nos dois testículos e 11.722 em somente um.
Para incentivar os cuidados dos homens com a saúde desde a infância, a SBU realiza neste ano a primeira edição do Novembrinho Azul, campanha nacional estabelecida pela Lei 14.694 em outubro de 2023. Veridiana Andrioli, uropediatra da Sociedade Brasileira de Urologia, explica que a cirurgia corretora é realizada após o sexto mês de vida do menino.
“Deu seis meses após o nascimento e o testículo ainda não se localiza na bolsa escrotal, o tratamento é cirurgia o quanto antes”, afirma.
Mesmo que ultrapasse o período de 18 meses de vida, Andrioli destaca que o ideal é que o procedimento de correção seja feito antes da puberdade, porque nesses casos há o risco de perda dos testículos.
Segundo a médica, na gravidez, o testículo do bebê se forma junto do rim e desce para a bolsa escrotal entre a 24ª e a 34ª semana de gestação. Por isso, a condição tem uma maior incidência em prematuros. Se a criança nasce antes das 36 semanas de gravidez, o testículo pode não ter tido tempo de descer.
“O testículo pode estar ‘escondido’, não palpável, em algum lugar entre o rim e a região inguinal [área localizada na parte inferior do abdômen, próxima à virilha, onde a coxa encontra o tronco]. Pode estar dentro do abdômen, dentro da virilha ou até mesmo do outro lado do escroto.”
De acordo com a SBU, entre janeiro de 2023 e agosto de 2024, somente 716 procedimentos corretores foram realizados antes de um ano vida do bebê. A enfermeira Monique Nascimento, 34, só conseguiu fazer a cirurgia no filho neste mês, quando ele já estava com um ano e sete meses de idade.
Ela conta que o filho saiu da maternidade de um hospital privado com o diagnóstico de testículo descido, apesar de não ter sido um parto prematuro. Os dois eram acompanhados pela equipe profissional da unidade de saúde, mas perderam essa assistência quando Monique ficou sem plano de saúde.
“Fui para a fila do SUS [Sistema Único de Saúde] para fazer o procedimento, mas não tive nenhum retorno. Então só consegui fazer o procedimento quando recuperei meu convênio médico e passei pelo período de carência”, relata.
Até o momento, o filho da enfermeira não sofre com nenhum efeito colateral da malformação congênita ou da cirurgia. Segundo a mãe, ele ficou mais calmo e sem apetite no dia do procedimento, mas no dia seguinte já estava normal e “brincando a todo vapor”. Não teve dor e nem precisou de medicamentos.
“É muito triste o que a operação tardia poderia causar, me deixava apreensiva, porque eu tinha que esperar a fila do SUS andar. Ficamos muito aflitos, porque é uma criança que pode ter qualidade de vida afetada para a vida toda.”
Além dos testículos não descidos, a campanha da Sociedade Brasileira de Urologia também faz um alerta para a torção testicular ou escroto agudo, problema mais comum em adolescentes e jovens adultos. Após os 25, a torção é muito rara.
A incidência é de aproximadamente um em cada 4.000 homens, de acordo com a SBU. De janeiro de 2023 a agosto de 2024, segundo o Sistema de Informações Hospitalares do SUS (Sistema Único de Saúde), do Ministério da Saúde, foram realizadas 2.218 cirurgias para correção do problema.
Marcos Machado, coordenador do Departamento de Uropediatria da SBU, explica que a torção é uma emergência médica que precisa ser resolvida cirurgicamente em poucas horas, porque o paciente pode perder o testículo.
“A torção ocorre porque o testículo tem um movimento natural de subida e descida dentro da bolsa testicular. Isso pode gerar a torção do testículo, dos vasos sanguíneos, causando uma isquemia [bloqueio do fluxo de sangue e oxigênio para a região]”, diz.
Com o quadro, o paciente sente uma dor aguda, que pode ser acompanhada por vermelhidão, inchaço e endurecimento testicular, além de náuseas e vômitos. A criança precisa ser levada com rapidez para uma emergência. No local, os médicos vão tentar reverter o quadro e fazer uma cirurgia para estabilizar o outro testículo.
“A torção de testículo é um problema de saúde pública. Muitos casos ou não são diagnosticados ou são diagnosticados de forma tardia. A criança pode ficar completamente sem testículos, sem hormônios masculinos.”