Empresas brasileiras devem investir em inovação, e o Estado, premiá-las por descarbonizar seus processos, disse na quinta-feira (7) o presidente da metalúrgica Tupy, Fernando de Rizzo, durante o seminário Inovação na Indústria, promovido pela Folha, patrocinado pela Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) e realizado em São Paulo. O evento teve mediação da repórter especial Joana Cunha.
“No Brasil a gente tem um problema: critica-se muito o setor público, mas o setor privado também investe muito pouco”, disse, destacando a importância dos investimentos em pesquisa ao longo da trajetória da Tupy, empresa brasileira fundada em 1938 que fatura R$ 11,4 bilhões por ano e tem fábricas também no México e em Portugal.
“A gente vive hoje, na nossa companhia, coisas que foram desenvolvidas nos anos 1970 e 1980”, afirmou. “Na época não se sabia bem onde iríamos aplicar, e de repente, por conta de uma série de necessidades da sociedade, nós entendemos que aquilo resolveria um problema”.
Em 2022, segundo a Pesquisa de Inovação Semestral do IBGE, 34% das empresas industriais com cem ou mais funcionários investiram em pesquisa e desenvolvimento. O valor total foi de R$ 36 bilhões.
Já a taxa de inovação industrial, medida pelo número de empresas que incorporaram novos produtos ou processos de negócio, ficou em 68% no mesmo ano.
A pesquisa se baseia em uma amostra de 1.532 empresas, cerca de 15% do universo geral de indústrias de médio e grande porte do Brasil, e seus resultados devem ser vistos com cautela, de acordo com o IBGE, pois a metodologia ainda está em fase de testes.
Aportes públicos na indústria também aumentaram, uma vez que o governo Lula elegeu como prioridade o que chama de neoindustrialização do país.
Empréstimos liberados pelo BNDES ao setor, por exemplo, superaram a concessão de crédito ao agronegócio pela primeira vez desde 2016, e o Ministério da Indústria, Comércio e Serviços disponibilizou R$ 2 bilhões para digitalização e aumento de produtividade de pequenas empresas.
O executivo da Tupy defendeu que o Estado recompense empresas capazes de descarbonizar processos –substituindo uso de combustíveis fósseis por biocombustíveis, por exemplo–, independentemente da rota de descarbonização escolhida.
“As empresas têm que ser premiadas pelo volume de descarbonização que conseguem gerar”, argumentou. “E não é o Estado ou um agente [que vai] definir qual tecnologia usar.”
Para De Rizzo, benefícios fiscais vinculados a uma tecnologia específica acabam por premiar a tecnologia em si, e não necessariamente os impactos reais em termos de descarbonização.
Alessandro Rizzato, gerente de mobilização empresarial da CNI (Confederação Nacional da Indústria), disse que a descarbonização poderia ser premiada por meio do mercado de carbono. “Não é dar desconto ou tirar imposto, mas sim valorizar e dar um prêmio para quem realmente está trabalhando nessas iniciativas que vão ajudar na descarbonização do planeta todo.”
Para Rizzato, a regulamentação do mercado de carbono ajudaria empresas brasileiras a provar no mercado internacional que seus processos são menos poluentes. Considerada a matriz energética brasileira, que é na sua maior parte limpa, isso daria uma vantagem competitiva aos produtos fabricados no país.
Na última terça-feira (5), o Senado aprovou a urgência do projeto de lei que institui o mercado de carbono no Brasil. O texto deixa de fora o agronegócio, responsável por cerca de 27% das emissões brasileira –com produtores rurais podendo aderir de forma voluntária.
Modelos
Os palestrantes apontaram alguns modelos de inovação industrial que o Brasil pode seguir. “Eu acho que o modelo que talvez mais possa se adequar ao Brasil é o americano, de integração universidade-indústria”, disse Glêison dos Santos, professor da UFV (Universidade Federal de Viçosa).
Ele citou o Vale do Silício, no estado americano da Califórnia. A região sedia as principais empresas de tecnologia daquele país, como Meta, Google e Apple, e teve impulso fundamental da Universidade de Stanford.
“Penso que nós não devemos beber água em uma única fonte ou em poucas fontes”, respondeu o diretor-presidente da Embrapii, Alvaro Toubes Prata, citando a China, que tem avançado rapidamente no mercado de carros elétricos, e países europeus
“Olha a revolução que a China tem feito na eletrificação dos veículos”, disse. “Nós estamos acostumados a ver as grandes montadoras com muita pujança e, de repente, começam a surgir novas empresas [chinesas].”
Prata, que é membro titular da Academia Brasileira de Ciências e ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, também elogiou as potencialidades brasileiras. “Nós temos aqui em abundância todos os ingredientes que nos permitem trazer soluções competitivas para vencer os desafios globais, seja do ponto de vista hídrico, seja do ponto de vista da economia circular, do ponto de vista energético.”