Você pode não saber quem é Shayne Coplan, o garoto de 26 anos que humilhou os institutos de pesquisa nos EUA. Pois saiba que ele criou uma plataforma capaz de saber muitas coisas sobre você. Coplan é o fundador do Polymarket, o mercado de apostas que foi capaz de prever com precisão o resultado das eleições dos EUA.
Enquanto os institutos de pesquisa teimavam em afirmar que a candidata democrata estava na frente (ainda que por pouco), o Polymarket já acertava o favoritismo republicano várias semanas antes da eleição. Quando a apuração começou, na terça passada (5), o agregado dos institutos de pesquisa dizia que a chance de vitória de Harris era 56% (levantamento do The New York Times). Já o Polymarket dizia no mesmo momento que a chance de derrota de Harris era 96%.
Durante o longo período em que o Polymarket mostrava o contrário dos institutos de pesquisa, muita gente criticou a plataforma. Afinal, dentre seus investidores está o bilionário Peter Thiel, que é notoriamente republicano. Em resposta às críticas, o fundador repetia que o Polymarket é estritamente não partidário.
Coplan criou a plataforma em 2020, quando tinha 22 anos. Ele nasceu e cresceu em Nova York. Aos 15 anos, ficou rico investindo na criptomoeda ethereum. Foi essa mesma tecnologia que ele usou para fazer o Polymarket. Aliás, outro investidor é justamente Vitalik Buterin, o criador do ethereum e um velho conhecido aqui da coluna.
Ao usar uma blockchain como fundamento, Coplan garantiu tecnicamente que não haveria ingerência externa sobre as apostas. Elas são feitas por meio de contratos inteligentes que são irrevogáveis e automáticos. Uma vez que o resultado é confirmado, o dinheiro é automaticamente transferido para os vencedores. Sem intermediários, sem interferência humana. Tudo é operado por software que pode, aliás, ser auditado por qualquer pessoa (boa parte dos códigos-fonte do Polymarket está publicada na internet).
A consequências estão aí para quem quiser ver. O Polymarket consolidou a era dos mercados de previsão. Essa tecnologia passa agora a ocupar um lugar central entre os mercadores do futuro. Por falar neles, em outubro de 2022 escrevi um artigo na Ilustríssima sobre as limitações dos institutos de pesquisa no mundo atual e a necessidade de eles adotarem novos métodos.
Tal como o Polymarket, fui duramente criticado, ou seja, a carapuça serviu. No artigo de 2022, aproveitei para elogiar o trabalho da AtlasIntel, instituto de pesquisa brasileiro que usa uma nova estratégia de pesquisa por meio da internet. Pois adivinhe qual foi o instituto no mundo todo que obteve a maior precisão na eleição dos EUA? Justamente a AtlasIntel, com erro de apenas 0,3 ponto, apontando com antecedência de semanas a vitória republicana (o Ipsos, por exemplo, errou 3,5 pontos apontando vitória democrata). Como cantou Cazuza: “Se você achar que tô derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados, porque o tempo, o tempo não para”.
READER
Já era – Acreditar que os métodos do passado funcionarão para sempre
Já é – Novas metodologias, como mercados de previsão
Já vem – A força avassaladora das “bets”. Como diz um amigo: “Agora tudo é bets”
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