Diante do desafio de solucionarem tarefas computacionais, chimpanzés sabem muito bem o que fazem. E, segundo um novo estudo, eles se saem ainda melhor se tiverem uma plateia.
Uma pesquisa publicada nesta sexta-feira (8) no periódico iScience (do grupo Cell) avaliou a relação entre a presença de espectadores e o desempenho de chimpanzés em tarefas cognitivas. Conforme mais pessoas observavam os animais, a performance deles melhorava, sobretudo para os problemas mais difíceis. Os cientistas, da Universidade de Kyoto (Japão), chamam isso de “efeito da audiência”, algo já estudado em humanos, contudo ainda pouco compreendido em outras espécies.
Se os observadores fossem pessoas já conhecidas, a performance dos primatas era ainda melhor, indicando que a expectativa de uma recompensa (comida, por exemplo) podia aumentar conforme o julgamento das pessoas próximas.
“Considerando que os chimpanzés conseguem distinguir entre pessoas familiares e desconhecidas, parece natural que eles possam se preocupar mais com a impressão dos conhecidos, com os quais eles interagem em seu dia a dia, em comparação aos humanos desconhecidos”, escrevem os autores.
O experimento foi feito da seguinte forma: seis chimpanzés foram avaliados para o desempenho em três tarefas computacionais distintas, da mais fácil para a mais difícil. Eles ficavam em gaiolas com paredes de vidro distribuídas lado a lado no laboratório do Centro para Origens Evolutivas de Comportamento Humano (antes Centro de Pesquisa Primata). A pesquisa se estendeu de 2009 a 2015.
As tarefas consistiam em apertar em uma tela uma sequência numérica de 1 a 19. Na primeira os números apareciam de forma direta (1, 2, 3… etc) e na segunda, de forma aleatória. Na terceira, eles eram apresentados igual à segunda, mas, após a seleção do primeiro número, os demais eram mascarados, obrigando os animais a memorizarem suas posições.
Tanto observadores familiares (pessoas que os animais estavam acostumados a ver e conviver diariamente) quanto desconhecidos (que nunca tinham visto antes), além dos organizadores do experimento, podiam assistir à execução das tarefas. Como as paredes eram de vidro, os animais sabiam quando estavam sendo observados e por quem.
Em geral, os chimpanzés apresentaram um desempenho superior nas tarefas mais complexas quando o número de experimentadores familiares aumentava, sugerindo que esses observadores atuavam como uma fonte de incentivo ou motivação adicional. Em contrapartida, nas tarefas mais fáceis, quanto maior o número de espectadores, menor foi o desempenho, indicando que a presença de uma audiência poderia, em alguns casos, ser um fator de distração.
Segundo os autores, os achados são consistentes com outros estudos que apontam que o chamado efeito da audiência pode ser uma adaptação evolutiva em primatas, em que a presença de observadores familiares influencia positivamente o comportamento. Os achados do estudo não permitem, porém, tirar conclusões sobre os motivos para essa mudança no desempenho —se por reputação ou por recompensa— dos animais.
Em humanos, a percepção de estar sendo observado enquanto realiza uma tarefa pode aumentar a atenção e o esforço, o que poderia explicar a melhor performance em tarefas complexas. Tal fenômeno, conhecido como facilitação social, parece ocorrer também em outros primatas, o que reforça a hipótese de que o comportamento teria uma origem ancestral, afirmam os pesquisadores.
De acordo com eles, essas e outras respostas podem ser melhor elucidadas em pesquisas futuras que incluem experimentos para avaliar possíveis semelhanças e diferenças na forma como chimpanzés e humanos gerenciam sua reputação.
“O estudo nos ajudará a examinar mais a fundo quais os tipos de pressões sociais afetam o comportamento dos chimpanzés e revelar como esses aspectos se relacionam com as diferenças na comunicação e sociabilidade entre primatas e humanos”, dizem os autores da pesquisa.