A adoção de dietas low carb em pacientes com diabetes tipo 2 melhorou o controle da condição por aperfeiçoar a ação das células beta, substâncias responsáveis por fabricar e lançar insulina no organismo. O efeito não é visto nem mesmo em medicamentos tradicionais. A conclusão, que foi publicada em um artigo em 22 de outubro, é uma evidência da importância da alimentação em casos da doença.
A diabetes acontece quando o organismo do paciente não é capaz de secretar insulina suficiente para o controle da glicose. O distúrbio está relacionado com as células beta, que são responsáveis pela produção de insulina.
“A falha em secretar insulina suficiente ocorre por dois motivos: um é a falta de resposta da célula beta à glicose e o outro é um declínio real no número de células beta”, afirma Barbara Gower, do departamento de ciências nutricionais da Universidade do Alabama em Birmingham, nos EUA, e uma das autoras do estudo publicado no The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism.
Embora relacionadas com a diabetes, medicamentos atuais para o tratamento da doença não agem diretamente nas células beta. Gower considera que esse cenário é “uma deficiência dos medicamentos para diabetes”. Ela ressalta que agonistas do receptor GLP-1, como o Ozempic, estimulam as células betas a responderem à glicose, mas é necessário estudos aprofundados para entender em mais detalhe a função dessa droga em relação a essas células.
Mas o que Gower e outros autores da pesquisa buscaram entender foi o efeito de uma alimentação com baixo consumo de carboidrato nas células beta. A hipótese era que uma dieta desse tipo poderia ser uma forma de atuar na diabetes tipo 2, aquela associada principalmente a fatores ambientais e não genéticos.
Pesquisas anteriores já haviam demonstrado um efeito positivo desse tipo de plano alimentar em pacientes que vivem com diabetes por um longo período de tempo. Nesse caso, o mecanismo positivo pode estar relacionado a diminuição da necessidade de insulina após a alimentação, e não necessariamente com uma melhora na ação das células beta.
Por isso, o estudo avaliou exatamente os índices dessas células em 57 pessoas com diabetes tipo 2 em estágio leve que, por 12 semanas, foram divididas em dois grupos. Um desses segmentos seguiu uma dieta com baixo consumo de carboidrato, que representava cerca de 9% do total de ingestão diária.
No segundo grupo, carboidratos representavam cerca de 55% da alimentação dos participantes. No final do período da pesquisa, o primeiro grupo teve um aumento de 22% na ação das células beta, algo não visto nem mesmo com o uso de medicamentos convencionais.
Não se sabe exatamente por que a dieta restrita em carboidratos levou a esse resultado. Gower explica que “uma possível explicação é a remoção da ‘toxicidade’ produzida pela exposição das células beta ao excesso de glicose e/ou de ácidos graxos”, ambos associados com um alto consumo de carboidratos.
Esse não é o único ponto em aberto do estudo. A autora defende que os efeitos positivos encontrados com a dieta low carb são “razoavelmente sólidos”. No entanto, é necessário entender a variabilidade que esse tipo de alimentação causou nos participantes, já que os resultados não foram exatamente iguais em todos eles.
Outro aspecto levantado por Gower para futuras pesquisas é o mecanismo desencadeado pela restrição no consumo de carboidrato. “Ela atua principalmente na célula beta ou no fígado?”, questiona a pesquisadora.
Para o futuro, Gower deseja ir mais a fundo nesse tema por abranger um número maior de pessoas, além de contar com diferentes perfis populacionais, como crianças e pessoas com pré-diabetes ou com diabetes tipo 2. “Atualmente não temos financiamento para esses estudos, mas estamos buscando”, conclui a pesquisadora.