Após a derrota em São Paulo nas eleições de 2024, Guilherme Boulos (Psol-SP) tem admitido o enfraquecimento da esquerda no país. Em entrevista para o jornal Valor Econômico, Boulos afirmou que a esquerda precisa mudar o discurso para não sofrer uma “derrota histórica”.
“O que eu estou propondo é que a esquerda faça uma mudança para responder a esse cenário sob o risco de sofrer uma derrota histórica no sentido de termos uma hegemonia política da extrema-direita de uma ou duas décadas no Brasil”, disse o deputado.
Para ele, a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022 não foi capaz de impedir o avanço do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados, que costuma chamar de “extrema-direita”. “Quem achou que a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) há dois anos representaria o fim do bolsonarismo no país e que a extrema-direita não avançaria no mundo estava enganado”, afirmou Boulos na entrevista ao Valor.
Em evento para a militância, na quinta-feira (7), Boulos fez um discurso em que chamou a “extrema direita” de “erva daninha” que “cresce rápido”. “Quando se planta ódio, medo, como a extrema direita faz, nesse país e no mundo, floresce mais rápido”, disse em seu primeiro evento público após a derrota.
Na entrevista, no entanto, Boulos enfatizou ainda que a direita tem conseguido fazer o que chamou de “disputa de valores”. “A extrema-direita, no mundo todo, se dedicou a fazer uma disputa de horizonte, de visão de mundo, de valores. A esquerda acreditou que as melhorias sociais seriam suficientes e não entrou nessa disputa. O resultado é que setores que melhoraram de vida durante os governos do PT passaram a votar na extrema-direita”, disse.
Boulos, que já foi candidato à presidência em 2018, disputou a prefeitura em 2020, foi o deputado mais bem votado de São Paulo em 2022, além da disputa municipal em 2024, disse ter paciência ao projetar seu futuro político. “Tenho paciência histórica. Você não chega aos objetivos que quer na política construindo atalhos artificiais”, disse o deputado.
Boulos diz que reconheceu vitória de Nunes, mas que campanha foi “baixa e suja”
Pela segunda vez consecutiva, Boulos perdeu a disputa pela prefeitura de São Paulo. Dessa vez, a diferença foi de quase 20 pontos percentuais. O candidato vitorioso foi o prefeito reeleito Ricardo Nunes (MDB), apoiado pelo governador do estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na entrevista para o jornal Valor Econômico, Boulos disse que não telefonou para Nunes para parabenizá-lo pelo resultado. Apesar de reconhecer a vitória do rival e não questionar o resultado, o deputado classificou a campanha como “muito baixa e suja”. “Com Covas foi uma campanha civilizada. Agora foi uma campanha muito baixa e suja, de ataque despropositado. Logicamente reconheci o resultado. Não é do meu lado que vocês vão ver questionamento de urna”, disse Boulos ao comparar as disputas de 2020 e 2024. Em 2020, Boulos foi derrotado por Bruno Covas (PSDB), que tinha Nunes como vice.
Ao falar sobre a campanha, o deputado, que já comandou o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), também citou as falas do governador Tarcísio no segundo turno. De acordo com Tarcísio, o PCC orientou voto em Boulos. “Isso foi crime eleitoral. Fui atacado com mentiras de todo tipo. Isso não pode ser normalizado”, completou Boulos.
Boulos chama anistia para presos do 8 de janeiro de “absurdo político”
Após a derrota na eleição municipal, Boulos retornará ao seu mandato como deputado em Brasília. Entre as pautas destacadas, Boulos prometeu enfrentar o projeto de lei que pretende anistiar os presos do 8 de janeiro. “Seria o maior absurdo político da história recente se isso passasse. Anistiar os participantes do 8 de janeiro é comprar a visão de que aquilo foi um piquenique de senhoras e não uma tentativa de golpe”, disse Boulos.
O projeto de lei da anistia estava pronto para ser aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) quando uma decisão do presidente Arthur Lira (PP-AL) alterou a tramitação da proposta. Agora, o projeto terá que analisado por uma comissão especial. Nos bastidores, deputados afirmam que a intenção de Lira é usar a comissão especial para sensibilizar a população sobre a situação dos presos, levando as famílias para falar em audiências públicas.
A possibilidade de reverter a inelegibilidade de Bolsonaro também é rechaçada pelo deputado. “Seria um absurdo sem tamanho, depois de tudo que o Bolsonaro fez, ele ser novamente normalizado e ser revertida no tapetão da Câmara uma inelegibilidade que teve razão de ser”.