Robert Kennedy Jr. é sobrinho do ex-presidente democrata americano John F. Kennedy, assassinado em 1963. Ele é adepto de Donald Trump, antivacina e possivelmente futuro secretário da Saúde dos Estados Unidos. Pelo menos tem planos para tal.
Numa postagem na plataforma X, em 2 de novembro, Kennedy anunciava que, no dia em que Trump tomasse posse, a Casa Branca recomendaria que se suspendesse a fluoretação da água encanada no país, alegando que o fluoreto é um resíduo industrial associado a diversas moléstias, entre as quais câncer ósseo, distúrbios do neurodesenvolvimento e redução do quociente de inteligência (QI).
O que é fluoreto?
Costuma-se confundir fluoreto com flúor, um gás altamente corrosivo e tóxico, de odor penetrante, que ao reagir com água resulta em ácido fluorídrico. Os fluoretos são sais desse ácido, presentes em diversos minerais e no corpo humano, sobretudo nos ossos e no esmalte dentário, mas também no sangue e no suco gástrico. Chá verde e preto, peixe e aspargos são fontes naturais.
Por que fluoretar a água?
Fluoretos estão presentes naturalmente na água, em pequenas quantidades, porém no início do século 20 cientistas dos EUA notaram que as cáries dentárias entre crianças eram menos frequentes nas áreas em que a concentração da substância na água era maior.
“Uma certa quantidade de fluoreto é benéfica à saúde dental”, confirma o toxicologista Carsten Schleh. Ele não é essencial para o ser humano, mas serve à remineralização do esmalte, reduzindo, assim, o risco de cáries.
Atualmente, diversos países acrescentam fluoreto à água encanada e/ou a dentifrícios e o sal de cozinha. O departamento americano de saúde Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) o classifica como uma das dez mais importantes invenções do século 20 no setor.
Fluoreto representa perigo para a saúde?
No entanto, nem todos concordam com o entusiasmo do CDC, como mostra a postagem de Kennedy: em certos meios, há anos o fluoreto é execrado como veneno responsável por numerosas enfermidades.
Schleh discorda dessa condenação radical, lembrando que “a dose é que faz o veneno”. Nos dentifrícios, é quase possível ocorrer uma superdose, já que normalmente o fluoreto é cuspido, não ingerido.
No caso da água e do sal, o cálculo é mais complicado. O CDC prescreve a ministração de 0,7 miligrama de fluoreto por litro d’água, o que, segundo o instituto alemão de proteção da saúde do consumidor BgVV, corresponde à dose diária máxima para crianças entre 1 e 4 anos de idade. Os adultos não devem ultrapassar 3,8 miligramas.
Uma superdose pode provocar manchas brancas ou marrons nos dentes infantis, denominadas fluorose. No caso de ingestão de 10 a 25 miligramas diárias, ao longo de vários anos, registra-se até mesmo fluorose esqueletal, resultando em fraturas e alterações das articulações. Por sua vez, 300 a 600 miligramas diárias são potencialmente responsáveis até mesmo por danos renais.
Fluoreto torna as crianças mais burras?
Uma metanálise realizada em 2023 concluiu que a concentração de fluoreto considerada segura pelo CDC na água potável tem efeitos negativos sobre o desenvolvimento cerebral infantil, de fato comprometendo a inteligência.
No entanto os autores alertam que, devido à qualidade desigual dos estudos analisados, o resultado pode estar distorcido, “com uma tendência geral a uma associação mais fraca ou ausente, nos estudos realizados com maior cuidado”.
Outra metanálise indica que o QI só diminui se a ingestão de fluoreto ultrapassa as quantidades recomendadas, porém os indícios disponíveis não permitem julgar definitivamente se a substância causa algum tipo de distúrbio neurológico.
O toxicologista Carsten Schleh está convencido de que, caso em 20 de janeiro de 2025, o fluoreto desapareça da água potável americana, as doenças neurológicas não recuarão. Mas talvez crianças e adultos passem a ter mais cáries.