Quem transita pela região do Pacaembu onde se encontra o estádio e a praça Charles Miller talvez tenha dificuldade de imaginar como era essa região há um século.
Até o final da década de 1920 o local era basicamente um grande e inabitado matagal, sem residências e qualquer tipo de estrutura urbana. Uma das poucas instalações existentes no então futuro bairro era a chamada “biquinha do Pacaembu”. Mas onde ela ficava? E onde ela foi parar?
AS ORIGENS
Inaugurada em 1926 pela Cia City, que urbanizou e loteou a região, a Fonte Pacaembu, como era oficialmente chamada a biquinha, foi instalada após a canalização do ribeirão Pacaembu cuja água o abastecia. Tratava-se de um monolito de granito de aproximadamente de 1,60m de altura com duas cabeças de leão (uma de cada lado da peça) que jorravam água. A fonte ficava ao centro de uma pequena praça junto a uma pérgola e hoje em dia estaria diante da entrada do estádio.
Tão logo foi inaugurada a Fonte Pacaembu transformou-se em um ponto de passeio da população que ia até o local tanto para coletar água quanto para namorar. Aliás foi um passeio de namoro que ocasionou ali um assassinato que repercutiu por toda a cidade: o “Crime do Pacaembu”. Uma tragédia que parecia ter sido um assalto violento mas que depois revelou ser crime passional. Entretanto isso não abalou a popularidade da fonte, que permaneceu sendo visitada com frequência.
A história da biquinha começaria a mudar em 1935 quando a Cia City doou para a prefeitura um terreno de 75.000 metros para a construção do futuro estádio municipal do Pacaembu. O local cedido era o vale próximo da fonte.
Mesmo após a inauguração do estádio e mesmo sem estar funcionando, a fonte permaneceu no local original por muitos anos até ser removida. Na época não existiam órgãos de defesa de patrimônio histórico e nem a consciência preservacionista que temos hoje.
Anos mais tarde, precisamente em 1969, no mesmo local da fonte foi instalada a estátua de David que originalmente ficava dentro do estádio, ao lado da concha acústica. Com a destruição da concha para a construção do tobogã o monumento teve que ser realocado. Curiosamente anos mais tarde, em 1974, a mesma estátua foi removida e acabou instalada diante do parque Ceret.
RESSURGIMENTO
O velho monolito já era dado como destruído ou desaparecido por décadas pelo poder público até ser reencontrado em 1999, durante uma obra interna no estádio do Pacaembu.
A peça de granito havia sido guardada em uma área que depois recebeu uma segunda parede, ficando “ensanduichada”. Isso acabou protegendo-a de intempéries e vandalismo, sendo redescoberta intacta. Com isso ela foi colocada em uma área próxima ao ginásio poliesportivo onde permaneceu até o início das obras tocadas pela concessionária Allegra Pacaembu.
NOVO SUMIÇO
Com as obras do complexo Pacaembu, que ainda não se encerraram, o monolito sumiu. Moradores do bairro e frequentadores do Pacaembu que preferem permanecer no anonimato afirmam que a peça desapareceu novamente e poderia ter sido destruída.
Em duas visitas que fiz ao complexo em 2024 realmente não encontrei a peça em lugar algum. Entrei em contato com a concessionária solicitando informações sobre o paradeiro da fonte do Pacaembu e onde ela seria instalada após os términos das obras e não obtive resposta.
A Allegra Pacaembu deve respostas claras para a população paulistana sobre o paradeiro do monolito do Pacaembu.
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