A Guarda Civil Metropolitana usou na tarde desta quinta-feira (7) spray de pimenta e a força para retirar manifestantes que protestam contra o corte de árvores para a construção de um túnel na Vila Mariana (zona sul de São Paulo) que interligará as vias Sena Madureira e Ricardo Jafet.
A vereadora eleita Renata Falzoni (PSB) chegou a ser carregada por cinco GCMs que a seguraram pelas pernas e pelos braços após ela se recusar a soltar a árvore onde estava agarrada.
Falzoni, afirma que passou a sentir dores musculares na perna depois de ser retirada à força do local. Ela conta que ficou no chão caída, retida pelos GCMs. “Quando eu tentava levantar, me faziam deitar de novo”, diz.
“Não tenho palavras para descrever, dá vontade de chorar ao ver as árvores cortadas”, afirma. Segundo ela, ao menos 15 árvores foram retiradas nesta quinta-feira.
“Aqui é um corredor verde e de fauna que liga os parques Ibirapuera e Aclimação.”
Em nota, a GCM diz que acompanhou uma manifestação na região da rua Sena Madureira e que os agentes orientaram os manifestantes a se afastarem do local onde acontecia o corte de árvores autorizado pela prefeitura para a obra do Túnel Sena Madureira.
Houve resistência e pela manhã uma mulher foi encaminhada pela GCM ao Distrito Policial, por desacato. “A manifestação foi controlada e os agentes permanecem no local”, diz.
O ex-deputado federal e ex-secretário municipal do Meio Ambiente Eduardo Jorge (PV), segundo Falzoni, também foi contido pela GCM.
A Secretaria Municipal de Mobilidade e Trânsito diz, também em nota, que a obra respeita todas as exigências relativas a questões ambientais.
A pasta lembra que foi autorizada pela Secretaria de Verde e Meio Ambiente a supressão de 172 árvores e que serão preservadas 362 árvores existentes no local.
“A compensação será realizada com plantio de 266 mudas arbóreas dentro do perímetro da obra e apenas com espécies nativas. O replantio deverá ser executado até o fim das obras”. afirma a prefeitura.
Mesmo assim, a intervenção tem sido questionada do ponto de vista ambiental e virou alvo de protestos.
O ativista Laudecir Gasparotto, o Lau, coordenador-adjunto do Conselho Participativo Municipal da Vila Mariana, diz ter sido tirado com força de cima de uma estrutura metálica instalada para cercar a obra.
Um vídeo gravado por manifestante mostra um guarda-civil usando spray pimenta para tirar as pessoas de cima da estrutura.
Os protestos na altura do número 660 da Sena Madureira começaram há cerca de uma semana. Segundo manifestantes, na quarta-feira (6) já havia ocorrido intervenções da GCM.
“Arrastaram a gente e depois cercaram o local com tapumes”, afirma Lau. Segundo ele, uma mulher cortou o braço ao ser retirada da estrutura metálica.
Como mostrou a Folha, o Ministério Público instaurou inquérito para apurar se houve atos de improbidade administrativa na gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na obra de construção do túnel.
Em documento assinado na semana passada, o promotor Silvio Antonio Marques concede prazo de dez dias para que as secretarias de Infraestrutura Urbana e Obras e de Mobilidade e Trânsito prestem esclarecimentos, sob pena de instauração de inquérito policial.
Na semana passada, a administração municipal disse que a “a obra do túnel Sena Madureira beneficiará mais de 800 mil pessoas que circulam na região diariamente”.
“A intervenção prevê melhor fluidez do trânsito, comportando ônibus e veículos utilitários e garantindo a interligação entre Vila Mariana, Ipiranga, Itaim Bibi e Morumbi. Cabe ressaltar ainda que a obra respeita todas as exigências relativas a questões ambientais”, afirma trecho da nota.
O custo do túnel atualmente é de quase R$ 520 milhões. Para fazer a ligação entre a rua Sena Madureira e a avenida Ricardo Jafet, serão construídos dois túneis que, juntos, somam 1,6 km de extensão.