Há não muito tempo, pensava-se que o TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade) afetava apenas meninos em idade escolar —os mais bagunceiros que não conseguiam ficar parados na sala de aula e estavam sempre se metendo em problemas. Hoje, o número de diagnósticos do transtorno está aumentando rapidamente em todas as faixas etárias, especialmente em mulheres jovens e de meia-idade.
Os números são assustadores. Acredita-se que cerca de 2 milhões de pessoas na Inglaterra, 4% da população, tenham TDAH, diz o Nuffield Trust, um laboratório independente do Reino Unido.
Os sintomas do transtorno se sobrepõem aos do autismo, dislexia e outras condições que, como o TDAH, são conhecidas por serem causadas pela forma como o cérebro se desenvolve. Ao todo, de 10% a 15% das crianças têm padrões de atenção e processamento de informações que pertencem a essas categorias.
No momento, o TDAH é tratado como oito ou oitenta: ou você tem ou não. Essa abordagem binária ao diagnóstico tem duas consequências. A primeira é que tratar todos como doentes sobrecarrega sistemas de saúde. As listas de espera para avaliações na Inglaterra duram até dez anos e o sistema educacional para necessidades especiais está abarrotado. A segunda consequência ocorre quando o TDAH é tratado como uma disfunção que precisa ser consertada, levando a um terrível desperdício de potencial humano. Forçar alguém a se encaixar no “normal” é desgastante e pode causar ansiedade e depressão.
Essa visão binária do TDAH não é mais apoiada pela ciência. Pesquisadores perceberam que não existe algo como o “cérebro do transtorno”. As características em torno das quais a caixa de diagnóstico do TDAH é desenhada —problemas de atenção, impulsividade, dificuldade de organizar a vida diária— abrangem um amplo espectro de gravidade, muito parecidas com traços humanos comuns. Para aqueles no extremo grave, a medicação e a terapia podem ser cruciais para terminar a escola ou manter um emprego, e até mesmo salvar vidas, suprimindo sintomas que levam a acidentes.
Mas para a maioria das pessoas com TDAH, os sintomas são leves o suficiente para desaparecer quando o ambiente joga com seus pontos fortes. Em vez de tentar tornar as pessoas “normais”, é mais sensato —e mais barato— ajustar salas de aula e locais de trabalho para se adequarem à neurodiversidade.
Em Portsmouth, no sul da Inglaterra, professores foram treinados para avaliar o perfil de neurodiversidade de uma criança em características que incluem fala, níveis de energia, atenção e adaptabilidade. O objetivo é descobrir onde esses alunos precisam de apoio e quais são seus pontos fortes, sem diagnosticá-los com nada em particular.
Organizar aulas para incluir ações de sentar, ficar em pé e trabalhar em grupos é uma das maneiras de tornar as coisas mais fáceis para esses alunos com traços do tipo TDAH.
Maior liberdade para escolher quando chegar à escola ou ao trabalho também pode ajudar aqueles que estão desgastados pela sobrecarga sensorial durante a correria da manhã. Resumos de tópicos de aulas ou memorandos de trabalho, fones de ouvido com cancelamento de ruído e cantos silenciosos também podem ser aliados.
Esses recursos devem estar universalmente disponíveis na escola e no trabalho. Uma maior compreensão da neurodiversidade reduziria o bullying nas escolas e ajudaria os gestores a entender que essas pessoas são frequentemente especialistas, em vez de generalistas.
Elas podem ser ruins em grandes reuniões ou salas de aula barulhentas, mas excepcionais em multitarefas e atividades visuais ou repetitivas que exigem atenção aos detalhes. Usar os talentos com sabedoria significa delegar o que não se consegue fazer bem para os outros.
Uma cultura que tolera diferenças e tem uma visão esclarecida das regras ajudará as pessoas a alcançar mais e aproveitar mais a vida. Essa, em vez de mais consultas médicas, é a melhor maneira de ajudar o número crescente daqueles que fazem fila para diagnósticos de TDAH.