Helldivers 2 é mais um exemplo de um lançamento apressado, caraterizado por servidores instáveis e uma abundância de erros técnicos. No entanto, apesar destas problemáticas, consegue ser divertido até certo ponto. A sua maior lacuna reside na falta de conteúdo diversificado, que leva à monotonia em pouco tempo.
Helldivers 2, um shooter cooperativo da Arrowhead Game Studios, transformou-se rapidamente num sucesso entre os jogadores que procuram experiências deste género, excedendo em certa medida as expectativas. A transição para uma perspetiva na terceira pessoa em comparação com o seu antecessor, juntamente com a introdução de um sistema de recompensas mais elaborado, contribuiu para a criação de uma experiência mais intimista e direta.
Embora seja um exclusivo da PlayStation 5 nas consolas e apoiado pela própria PlayStation/Sony, Helldivers 2 confrontou-se de início com grandes problemas que não passaram despercebidos aos jogadores. Desde dificuldades nos servidores a crashes frequentes e desempenho inconsistente, o título juntou-se à lista de lançamentos problemáticos que, infelizmente, tem sido uma tendência nos últimos tempos. Todos estes entraves contribuíram para uma receção inicial nada positiva, mas a equipa de desenvolvimento tem trabalhado com afinco para resolver os problemas e melhorar a experiência de jogo.
A problemática dos lançamentos apressados
Como outros lançamentos recentes, Helldivers 2 expõe a situação problemática da indústria, em que os jogadores assumem o papel de “beta testers”, deparando-se com problemas que deveriam ter sido corrigidos antes do lançamento. Este padrão infelizmente comum realça a necessidade de uma abordagem mais responsável por parte dos estúdios e editores relativamente aos seus lançamentos.
Embora os problemas permaneçam, especialmente no PC, Helldivers 2 consegue ser um jogo interessante. É um shooter cooperativo na terceira pessoa onde até quatro jogadores podem participar na ação. Com um toque de humor que faz lembrar o filme “Starship Troopers”, mas também evoca memórias do clássico Warhawk, lançado para a PlayStation 3 em 2007.
A premissa de Helldivers 2 gira à volta da luta da humanidade pela sobrevivência e liberdade contra ameaças extraterrestres. Como parte de uma união mundial na batalha pela democracia, enfrentamos forças determinadas a destruir o nosso modo de vida. Assim, somos recrutados para este conflito e passamos por um “teste” inicial, um tutorial que introduz as mecânicas básicas e nos prepara para os desafios futuros.
Após o nosso treino inicial como recruta, somos rapidamente destacados para comandar uma nave, uma situação que, apesar de hilariante, é a mais pura verdade. É dentro desta nave que assumimos o comando das operações, desde o arsenal à armadura, bem como decidimos onde vamos combater. Com uma série de opções de personalização, podes equipar a nave com mais poder bélico à medida que progrides. Ao completarmos as missões, somos recompensados com vários recursos, que podem ser gastos em diferentes áreas. Podemos investir em melhorias na nave, garantindo um apoio mais robusto durante as nossas operações, ou então investir em novas armas e armaduras para fortalecer o nosso combatente.
Helldivers 2 é um pay to win?
A personalização está intimamente ligada à loja de compras, que se divide por zonas distintas. A primeira apresenta os Warbonds (uma espécie de battle pass) com grande variedade de itens, no entanto, para desbloquear cada patamar o jogador é obrigado a gastar as medalhas em vários dos artigos nos patamares mais baixos, pois cada um deles exige um determinado número de medalhas gastas, o que leva a um desperdício considerável de recursos em itens que não te interessam. Ainda dentro dos Warbonds, há uma secção para os mais dedicados, para quem comprou a Super Citizen Edition ou a quiser desbloquear no próprio jogo com Super Créditos, esta é mais dispendiosa em termos de medalhas e com uma progressão mais lenta entre patamares. Por fim, existe a loja onde se pode gastar a moeda do jogo (Super Créditos), adquirida com dinheiro real ou nas outras duas zonas. Aqui, o jogador tem a opção de gastar dinheiro verdadeiro em artigos apetecíveis, embora esta seja uma escolha pessoal.
O meu principal problema com as microtransacções prende-se com o seu impacto direto na jogabilidade, e aqui esse impacto é mínimo, embora existam armaduras e armas que podem fazer a diferença, não é um pay to win. Trata-se de um shooter cooperativo, onde o foco não é o combate entre jogadores, mas sim a cooperação para completar missões, ainda assim, o facto de certos itens com atributos que impactam diretamente na jogabilidade só poderem ser adquiridos com Super Créditos pode afetar em certa medida a experiência.
Bons momentos, mas o grinding é real
Em Helldivers 2, a necessidade de grind é muito forte. Os recursos são escassos e o processo de os obter é extremamente moroso. Por exemplo, ainda estou a utilizar a primeira arma do jogo, pois as melhores só estão disponíveis em patamares mais avançados, para os quais ainda não consegui reunir recursos suficientes. Embora o grind seja compreensível até certo ponto, pois é comum em muitos jogos deste género, a experiência torna-se muitas vezes monótona devido à repetição constante das mesmas atividades durante horas a fio só para obter os recursos necessários.
Embora ofereça momentos gratificantes, a experiência é muitas vezes ensombrada pelos problemas presentes no jogo. Há momentos fantásticos, especialmente quando se joga com amigos e se tem sucesso nas missões, mas estas ocasiões são pouco frequentes no meio da monotonia da repetição constante. A falta de diversidade e conteúdo é patente, o que torna a experiência menos estimulante do que poderia ser. Para muitos jogadores, os atuais obstáculos de Helldivers 2 podem ser difíceis de ignorar.
Obviamente que não é obrigatório jogarmos em cooperação, podemos embarcar nas missões sozinhos, mas a tarefa de completar os objetivos é muito mais demorada, e chega-se a um ponto que estamos apenas a testar as nossas capacidades e pouco mais. A cooperação é essencial para que Helldivers 2 funcione bem, quem não tem amigos disponíveis para jogar, a participação depende dos jogadores aleatórios, o que nem sempre garante uma experiência coesa ou satisfatória.
O sistema de matchmaking continua a ser um ponto problemático, apesar das atualizações que o visam melhorar. Os jogadores ainda enfrentam longos tempos de espera para encontrar uma partida e, por vezes, são confrontados com interrupções abruptas, como quedas de ligação a meio de uma missão. A instabilidade do jogo também se manifesta com crashes inesperados e o desaparecimento de membros da nossa equipa durante as partidas, o que prejudica significativamente a experiência das dinâmicas de cooperação.
A Super Terra precisa de nós
Assumimos o papel de combatentes da Super Terra, encarregada de lutar contra ameaças alienígenas que procuram a nossa aniquilação. As missões levam-nos a vários planetas, cada um com diferentes ambientes, desde desertos escaldantes a tundras geladas e terrenos rochosos. Além disso, os planetas podem ter modificadores atmosféricos, como tempestades de areia e temperaturas extremas, que afetam diretamente as capacidades dos combatentes. Vamos enfrentar uma variedade de inimigos em cada cenário, que proporciona desafios únicos em cada missão.
As missões oferecem uma variedade de atividades que, à primeira vista, podem parecer numerosos, mas que se revelam limitados após algumas partidas. Estes objetivos vão desde resgatar civis a eliminar inimigos específicos, recolher informações ou transportar objetos de um ponto para outro. Além disso, cada missão pode incluir objetivos secundários, que acrescentam camadas extra aos desafios e às recompensas. A diversidade de tarefas em cada incursão cria uma experiência dinâmica, especialmente quando jogas em níveis de dificuldade mais elevados, em que várias situações podem acontecer em simultâneo.
Apesar de todos os momentos empolgantes e da grande adrenalina nas batalhas, encontramo-nos muitas vezes numa situação em que somos obrigados a fugir dos inimigos enquanto procuramos desesperadamente por munições, fugir sem munição é mesmo uma constante. Parece que, para onde quer que nos viremos, há sempre um novo grupo de “aranhas”, algumas delas de proporções aterradoras que exigem uma cooperação efetiva para as derrotar. A escolha do arsenal de cada jogador desempenha um papel fundamental nestas situações, uma vez que são necessárias armas específicas para lidar com determinados “bosses”, constituindo um verdadeiro desafio se não estiveres devidamente equipado.
Dependemos não só do arsenal que transportamos, mas também do apoio aéreo estratégico fornecido pelas naves espaciais em órbita. No entanto, é importante gerir estes recursos de forma sensata, uma vez que têm períodos de carregamento e devem ser utilizados com precaução. É essencial estar atento à posição dos nossos companheiros de equipa, pois o fogo amigo é uma ameaça constante e real. Infelizmente, já me encontrei em situações em que atingi acidentalmente alguns dos meus colegas de equipa com disparos mal direcionados – são os riscos da profissão, como se costuma dizer.
Boa profundidade nas mecânicas
A combinação destes elementos – desde a cooperação com os colegas de equipa ao apoio aéreo estratégico e à gestão do arsenal personalizável antes de cada missão – acrescenta uma série de profundidade e complexidade à experiência. Houve momentos em que dei por mim genuinamente empenhado e divertido, a desfrutar da ação intensa e da camaradagem partilhada com os meus colegas de equipa. No entanto, é difícil ignorar os atuais problemas. A repetição excessiva das mesmas atividades, a falta de conteúdo substancial e os numerosos problemas técnicos a prejudicar a experiência geral. Na verdade, dá a sensação de que Helldivers 2 foi lançado prematuramente, sem estar totalmente preparado para enfrentar os desafios do “campo de batalha”.
Do ponto de vista visual, deixa algo a desejar, especialmente quando jogado no PC. Os gráficos são bastante modestos para os padrões da plataforma, dando a impressão de ser um simples port da versão PlayStation 5. Poucos elementos visuais se destacam, e a qualidade geral parece mais próxima dos jogos lançados há alguns anos. Se estás à procura de algo com visuais impressionantes, vais ficar desiludido. No entanto, uma vantagem desta abordagem mais modesta é que pode correr em máquinas menos poderosas, o que pode atrair um público mais vasto. Talvez seja esta a intenção do estúdio ao optar por um estilo visual mais simplista.
Cativa ao primeiro impulso mas…
Em suma, Helldivers 2 apresenta-se como um shooter cooperativo com potencial para atrair ao primeiro impulso. Com várias camadas de diversão, especialmente quando jogado com amigos, oferece alguns momentos de entretenimento. No entanto, as falhas continuam a ser evidentes, desde uma variedade de problemas técnicos à falta de conteúdo a longo prazo. É possível atingir rapidamente o ponto de saturação, e não são precisas muitas horas para que isso aconteça. Parece claro que o jogo não estava pronto para ser lançado, faltando mais polimento e conteúdo, algo que esperamos que seja resolvido num futuro próximo.
Prós: | Contras: |
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