Apollo Justice: Ace Attorney Trilogy é a derradeira forma de experimentar estes clássicos para os iniciantes da série, repleta de julgamentos divertidos, misteriosos mas igualmente desafiantes.
Os videojogos são uma ótima forma de vivermos experiência e interpretarmos papéis que jamais acontecerão na vida real: já fui lutador, super-herói, explorador, ninja, detetive, assassino, condutor de corridas, entre muitos, muitos outros. Agora, posso adicionar mais uma “profissão” ao vasto e crescente rol: advogado de defesa.
Apollo Justice: Ace Attorney Trilogy foi lançado em janeiro passado e, tal como o nome indica, consiste numa trilogia remasterizada com três títulos clássicos da série, nomeadamente Phoenix Wright: Ace Attorney, Phoenix Wright: Ace Attorney – Dual Destinies e Phoenix Wright: Ace Attorney – Spirit of Justice.
Ideal para os iniciantes em Ace Attorney
Apesar de estar familiarizado com os jogos, graças em grande parte ao uso de “Objection!” em memes ou noutros vídeos divertidos, desconhecia por completo as suas mecânicas e o seu funcionamento concreto, pelo que as várias horas passadas com os títulos foram uma autêntica jornada de descoberta. E agora percebo o porquê de serem tão consagrados e aclamados pela crítica e pelos fãs.
De uma forma geral, os três jogos possuem o mesmo modus operandi, com umas diferenças aqui e acolá que os distinguem ligeiramente. De uma forma sucinta, o jogador é colocado no papel de um advogado cujo objetivo é defender e ilibar o seu cliente de todas as acusações de que foi alvo, tentando encontrar incongruências em testemunhos e apresentando provas que vão contra aquilo que foi dito em tribunal. Assim sendo, Ace Attorney é um jogo que obriga a uma atenção redobrada e a dedução rápida, já que é necessário prestar atenção a tudo aquilo que as personagens vão dizendo; em determinados momentos de questionário, quando detetada uma citação suspeita, cabe ao jogador apresentar uma prova que contraria essa mesma citação, tendo apenas cinco tentativas para o fazer.
Uma banda desenhada interativa
Apesar de haver uma imensidão de leitura nestes jogos – aliás, Apollo Justice: Ace Attorney Trilogy aproxima-se mais de uma banda desenhada virtual do que propriamente um videojogo – tudo isto é atenuado por personagens divertidas e carismáticas, um diálogo bastante apelativo, e ainda casos jurídicos simultaneamente misteriosos e inusitados, com uma pitada de drama à mistura. De facto, por vezes os casos aproximam-se mais de uma telenovela, com reviravoltas surpreendentes, testemunhas surpresa, provas inesperadas, trocas de acusações, insultos e uma série de outros momentos que tornam as narrativas emocionantes, se bem que a custo de algum realismo.
Sem querer dar muitos detalhes dos casos presentes no jogo, Apollo Justice: Ace Attorney Trilogy vai obrigar-te a resolver um assassinato na cave de um bar, um roubo de uma banca de noodles, um atropelamento, encontrar um ladrão de cuecas ou até mesmo descobrir quem fez explodir uma sala de tribunal. Aliado a tudo isto, existem algumas secções de investigação em que deves investigar cenas do crime, percorrer determinados locais, questionar transeuntes e angariar provas que serão posteriormente usadas em tribunal.
Alguns momentos podem ser injustos
E para um jogo de aparência tão linear, não deixa de ter um quê de injusto e confuso. Tal como disse anteriormente, enquanto decorre o julgamento, serás obrigado a apresentar uma determinada prova que contradiz um testemunho específico. No entanto, houve múltiplas vezes em que apresentei uma prova que (em teoria) deveria funcionar perfeitamente, mas apenas resultou numa repreensão e penalização por parte do juiz. Isto era um pouco dececionante, pois destruía por completo a minha linha de pensamento e obrigava-me a utilizar uma cobarde abordagem de tentativa e erro, até encontrar a combinação correta.
Mesmo as secções de investigação podem não ser inteiramente claras, e por diversas vezes encontrei-me perdido e sem saber exatamente o que fazer, apercebendo-me apenas mais tarde que tinha de falar com determinada personagem ou interagir com determinado item para prosseguir. Este remaster poderia ter sido um pouco mais polido nestes aspetos, tornando a experiência mais fluida e recompensado o jogador por explorar caminhos alternativos ou por uma lógica secundária.
Claro está, se não gostas de ler, ou se preferes algo que te desafie de uma forma mais física, Ace Attorney não é para ti. Podes passar 10 ou até 15 minutos sem clicar numa única tecla, apenas lendo os diálogos que vão passando automaticamente no ecrã graças à funcionalidade de autoplay do jogo. Este é o ADN do jogo: é um título baseado em narrativa e é escusado desejar que fosse outra coisa que pura e simplesmente não é. Mas não posso negar alguma impaciência da minha parte em determinadas ocasiões, com as personagens a falarem ininterruptamente e sem fim à vista. Um desejo ardente de regressar à sala de tribunal aflorava-me à pele nestes momentos!
Uma jornada jurídica especial
Tirando tudo isto, acredito que esta é a forma derradeira de jogar Ace Attorney. É curioso como o jogo consegue ter um charme e identidade visual inconfundível com gráficos tão minimalistas; até a banda sonora do jogo infiltra-se no cérebro e dei por mim a pesquisar uma música específica no YouTube que achei absolutamente eletrizante (chama-se Thrill Theme, já agora). A cereja no topo do bolo são as fantásticas cutscenes animadas e totalmente dobradas introduzidas a partir do segundo jogo, que muita vontade me deram de assistir à anime de Ace Attorney.
Se tens muitas horas livres e gostas de bons mistérios, não precisas de procurar mais – Apollo Justice: Ace Attorney Trilogy possui uma infinidade de conteúdos que vão pôr à prova a tua capacidade de dedução, lógica e raciocínio. Se já és fã da série, poderás sempre reviver os melhores momentos destes três jogos com uma qualidade gráfica superior, enquanto esperamos que a Capcom anuncie uma nova entrada para a série.
Prós: | Contras: |
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