Imagino que esta seja uma das piores semanas na vida da apresentadora Sabrina Sato, que sofreu um aborto espontâneo na terça-feira (5), em São Paulo, aos 43 anos. Ela estava na 11ª semana de gestação. Eu entendo a dor dela e me solidarizo.
Eu tinha 39 anos quando engravidei pela primeira vez, por meio de FIV (fertilização in vitro). Fazer o ultrassom foi emocionante, já consegui ouvir, lá de longe, o coraçãozinho do bebê.
Quando fui repetir o exame 15 dias depois, não havia batimento cardíaco. Eu estava na décima semana de gravidez. Enlouqueci. Despenquei no chão de tanto chorar enquanto tentava me vestir para sair do laboratório.
Naquela noite quis dormir sozinha, acompanhada apenas de um rolo de papel higiênico. Quando acordei, havia uma montanha branca de papel ao lado da cama. Doeu, mas ali eu senti a maternidade. Eu tinha virado mãe, mesmo sabendo que não teria bebê no colo.
Os dias seguintes foram de uma espera angustiante para expelir o que sobrou do meu filho de dentro de mim. Eu passei 15 dias sangrando, como se estivesse menstruada, até dar entrada no hospital quando a dor ficou insuportável.
Por sorte não precisei fazer curetagem, mas a médica teve que interceder no meu caso na sala do consultório. Fiz um ultrassom em seguida para ver se tudo tinha saído e me encaminharam para uma sala de espera com uma toalha bem grossa para estancar o sangue.
Tive que passar no meio de várias mulheres grávidas, algumas bem barrigudas, que estavam com aparelho acoplados nelas para ouvir justamente o coração de seus bebês. E eu tinha acabado de perder o meu. Nunca me recuperei plenamente. Ainda dói quando penso.
Engravidar após os 40 anos é um desafio, seja de forma natural ou via tratamento de FIV. Não é impossível, mas as chances de sucesso despencam, enquanto as de abortar aumentam assustadoramente. É uma gangorra. Aí começa uma corrida contra o tempo.
Por isso me espantei com o vídeo publicado pela cantora Luiza Possi, que me parece muito esclarecida, em que ela felicita as mulheres que engravidaram naturalmente nessa faixa etária. Até aí, tudo bem. Tem que felicitar mesmo.
Mas o problema é que ela coloca isso como algo simples de acontecer, dizendo que “essa mulherada linda engravidando após os 40 anos prova que não somos nossa idade”, ou que “não tem idade certa para nada”. Para engravidar tem sim. É uma mensagem sincera e positiva, mas que não retrata a realidade, e pode mais atrapalhar do que ajudar.
Acho engraçado que algumas mulheres se revoltam quando alguém fala dos riscos de engravidar após os 40 anos, como se tivéssemos torcendo contra.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que aproximadamente 15% das gestações terminem em aborto espontâneo, na média mundial.
Mas a realidade é que a mulher infelizmente tem prazo de validade para engravidar e precisamos falar disso. Quanto mais velha, mais difícil, mais arriscado, mais improvável. Mas acontece, como aconteceu comigo (mas não de forma natural).
Luiza deve ter recebido tantas mensagens, inclusive a minha, que fez um segundo vídeo falando em “positividade tóxica”, mas desta vez conscientizando as mulheres dos riscos de engravidar tarde e as incentivando a congelar óvulos.
A cantora foi humilde para entender a importância de falar do assunto de forma adequada. Ela pode ser uma voz importante para fazer as mulheres entenderem o quão arriscado pode ser adiar a maternidade.
Aproveito o espaço para mandar um abraço fraterno para a Sabrina e para o ator Nicolas Prattes, 27, que também deve estar sofrendo. A dor do pai não pode ser ignorada.
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