Um belíssimo jogo que confere à Peach um papel a solo multifacetado e à sua altura. O desafio moderado e a longevidade limitada são alguns elementos a rever e a melhorar num futuro desenvolvimento.
Não é fácil para a princesa Peach sair da sombra de Super Mario. Durante décadas e incontáveis jogos, esta princesa do Mushroom Kingdom viveu muitos sobressaltos. Raptada e levada sistematicamente para castelos bizarros, às maõs de uma criatura colossal como Bowser, permaneceu quase sempre como uma vítima solitária na gaiola. Só pela acção determinada de Super Mario conseguiu deixar para trás esses perigos. Se Peach é uma personagem de finalidade, uma espécie de prémio ou recompensa atribuída ao vencedor dos desafios, e por isso colocada num plano secundário, não a vemos menos num papel de liderança. Seja dos Toads residentes do Mushroom Kingdom, sempre muito tementes e devotos da sua princesa, num orgulho que exibem a cada recepção de Super Mario, ou em situações em que ela parece tomar a iniciativa.
Por entre as personagens secundárias da série Super Mario, faltava um papel principal de relevo atribuído à princesa. A sua aventura e a intervenção em cena dos seus poderes e habilidades. Haverá quem não se recorde de Super Princess Peach, o jogo lançado para a Nintendo DS em 2005 que lhe deu esses plenos poderes, mas ainda foram precisos quase vinte anos para a voltarmos a ver nesse estatuto de personagem principal, num jogo significativamente mais ambicioso, capaz de tranportá-la para outros mundos tão ou mais bizarros, caricatos e dinâmicos, como numa peça de teatro em permanente mudança de fundos.
O que parece mais difícil em “Showtime” e ao mesmo tempo revelador da multiplicidade de fatiotas, poderes e habilidades, é a modelação de um conjunto de poderes. Bayonetta é a rainha das artes marciais, providenciais habilidades de soco, pontapé e disparos, que mais nenhuma outra personagem feminina consegue exibir. Concentra uma fórmula invejável de combinações e acção em doses galopantes. Todos sabemos como Bayonetta é das melhores séries de sempre de acção. Já a princesa Peach não cavalga em torno de um conjunto de poderes, não se inscreve num segmento onde constrói o seu forte, antes se mostra hábil a mudar de cenário, a mudar de vestes e a receber poderes simplificados e em doses menores embora perfeitamente cabíveis no seu regaço.
Um teatro em sobressalto
Protagonista imparável, a saltitar de palco em palco, de peça de teatro em peça, servindo-se de fatiotas diferenciadas que lhe valem poderes diferenciados, de algum modo este é um tipo de experiência que podendo absorver muitas influências de alguns jogos do Mushroom Kingdom, especialmente no formato 3D em side scroll horizontal, é sobretudo um jogo bastante dinâmico, criativo e empolgante, quase a fazer lembrar os musicais nas sequências coreografadas e nas transições de espaços. Há situações que se repetem, como acontece quando a princesa é entronizada ao descobrir a estrela que lhe dá a indumentária e e a leva a transformar-se numa personagem dotada de especiais habilidades que a acompanham até ao fim do acto, mas isso é só um formalismo.
Resumindo um pouco do arco narrativo que é bastante simples, tudo começa quando a princesa descobre que algo corre mal no Teatro Esplendor, na qual uma personagem malévola chamada Rubi decide espalhar os seus lacaios pelas várias salas afectas a uma determinada peça de teatro. Nestas salas existe uma temática específica, um acto de uma peça de teatro. Existem actores e personagens encarregues de a fazer funcionar. Mas são também estas personagens que se vêem apanhadas no turbilhão causado pela Rubi.
Porém, a Peach não está só quando ocorre o tumulto. Em seu auxílio aparece uma deliciosa personagem chamada Estela, a lembrar as pequenas e gravitantes lumas de Super Mario Galaxy. Estela, que veste uma pequena fita, é a guardiã do Teatro Esplendor e descobre que Peach é a personagem principal capaz de acabar com o caos e vencer a malévola Rubi. Para tal confere à princesa o poder da fita, permitindo a interacção com o palco e com os actores. Basta premir o botão de acção para tocar em objectos ou personagens activando-os, operando dessa forma pequenas mudanças nos cenários, devolvendo-os à luz e ao seu estado prévio contagiante.
Os poderes transformadores
O Teatro Esplendor funciona como um grande teatro romântico constituído por inúmeras salas e pisos, um edifício a fazer lembrar os maiores cinemas de alguns centros comerciais que possuem quase duas dezenas de salas, com os posteres ao lado do acto em cena. As peças de teatro reportam-se a determinadas temáticas e estão conexas com uma designação que atribui à princesa uma domentária e um conjunto de habilidades. Normalmente, estes poderes aparecem só numa fase posterior ou intermédia. É também curioso que cada acto, ou peça de teatro levada a cabo naquela sala, contenha uma narrativa. Isto é interessante, porque embora possamos chamar níveis a estes segmentos, nos quais não faltam as “boss fights”, são bastante diferenciados.
Ao todo existem 10 transformações de Peach, o que produz uma dinâmica muito aprazível na construção dos níveis. Os lacaios de Rubi constituem adversários que urge eliminar, mas outras vezes há diferentes objectivos a cumprir, nalgumas situações a lembrar muitos mini jogos do tipo Mario Party. A Peach confeiteira tem um tempo limitado para produzir uma série de bolos, enquanto que a Peach Ninja movimenta-se com subtileza sob os ângulos mortos dos adversários, vencendo-os pelas costas. A Peach espadachim vence os adversários com a espada, enquanto que a Peach Kung Fu se serve das suas habilidades marciais.
Embora a quantidade de indumentárias possa dar ideia de alguma complexidade, os poderes são na realidade bastante simples, fáceis de aplicar e resumem-se muitas vezes a um par de acções a produzir através dos botões A e B. Na peça da Peach Vaqueira, há uma sequência de despique a cavalos, que consiste em evitar obstáculos e acertar nos rivais quando estiver próxima deles. Os processos são muito simples, intuitivos, ao ponto de por vezes o desafio se tornar quase secundário. Há aqui uma acessibilidade muito grande, mesmo quando subimos de piso e enfrentamos novos obstáculos e dificuldades nos actos que sucedem. Obter todas as estrelas secretamente alojadas só se consegue numa repetição do acto. É um elemento que inculca a revisita.
A Peach sereia, super heroína e patinadora, especialmente esta num teatro bem desenhado, projectam ainda mais momentos surpreedentes. A patinagem no gelo está muito bem conseguida e observar a desenvoltura em movimentos graciosos da princesa, sob o efeito das luzes, é algo que merece todo o louvor, no que respeita à construção dos níveis. Contudo e apesar da variedade de indumentárias e habilidades é pena que o desafio não seja mais consistente e prolongado. Muitos actos são curtos e cumprem-se num par de minutos. Nem sempre se atingem todos os coleccionáveis à primeira, mas também parece que algumas “boss fights” ganhariam em ser mais exigentes.
É inegável o charme e a beleza desta primazia dada a Princess Peach. É um jogo à altura de uma princesa que encontra o seu espaço de actuação, e se serve de uma dezena de transformações para viajar por entre mundos dinâmicos e recheados de diferentes desafios. É uma catadupa de belas sequências em série, um faz tudo digno de menção. É também um caminho diferente ensaidado para uma personagem que passa do plano secundário para os holofotes da acção. É também um jogo por vezes demasiado acessível, mais orientado para servir os guiões e as narrativas de cada acto, através de acções simples e práticas. Ganharia em deixar amadurecer as combinações de golpes e um conteúdo mais dilatado. Não obstante um óptimo e louvável recomeço da Peach nas suas aventuras.
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