South Park: Snow Day! distancia-se dos jogos anteriores quer a nível de género, quer a nível visual: e o resultado fica aquém das expectativas, com combate repetitivo e pouco imaginativo.
South Park tornou-se um colosso no mundo do entretenimento, uma saga clássica que já perdura há anos e não mostra quaisquer sinais de abrandamento. Para além de ter conquistado o mundo televisivo, foi igualmente bem-sucedida no cinema e até mesmo no ramo dos videojogos, graças essencialmente a dois títulos: The Stick of Truth e The Fractured but Whole.
Ambos os jogos, lançados pela Ubisoft em 2014 e 2017 respetivamente, colocam os jogadores no papel de um novo habitante de South Park, numa cidade fielmente recriada ao estilo peculiar 2D que caracteriza a série. Ao longo da hilariante jornada, vamos conhecendo múltiplas personagens como Stan, Kyle, Cartman e Kenny e participando em caóticas lutas por turnos repletas de ataques inusitados, por vezes envolvendo forte flatulência.
Uma mudança abrupta de género e estilo visual
Depois de dois jogos tão peculiares (e, sejamos honestos, bastante bons!), não acho descabido o choque que muitos jogadores sentiram aquando do anúncio de South Park: Snow Day!. Apesar de se tratar de uma sequela direta dos jogos anteriores, trata-se de um projeto fundamentalmente diferente nos mais diversos níveis.
South Park: Snow Day! consiste num jogo cooperativo em 3D, em que tu e outros 3 jogadores unem forças para destruir um mal gelado que está a lançar o caos por toda a cidade. As mecânicas do jogo são simples e certamente já as viste noutros títulos que oferecem um propósito semelhante: no entanto, vindo de dois títulos tão completos com atenção minuciosa ao mais ínfimo detalhe, Snow Day parece tão… vazio.
Comecemos pelo início. O jogo começa de forma promissora com uma cutscene ao estilo de animação clássico de South Park, onde os noticiários reportam uma enorme tempestade de neve que ameaça colocar a cidade à beira do abismo. A tempestade atinge proporções tais que a escola acaba por fechar (o que deixa Eric Cartman muito feliz) e dá aos rapazes a oportunidade perfeita de se vestirem a rigor e brincarem.
Ao longo de cinco capítulos, o nosso objetivo é derrotar hordas e hordas de inimigos usando as armas e as cartas de poder que temos ao nosso dispor, ao mesmo tempo que descobrimos a origem “malcheirosa” do nevão que cobriu a cidade num manto branco. A história é bastante direta para os padrões de South Park, com algumas piadas aqui e acolá, mas parece faltar aquele humor típico e acutilante pelo qual a série é conhecida, com dose extra de sátira social. Tirando um hilariante momento no final que faz referência a Dune, que me apanhou completamente desprevenido, poucos foram os momentos que achei verdadeiramente divertidos.
Em termos de gameplay, o jogo incumbe-te de derrotar múltiplos inimigos por toda a cidade usando uma combinação de armas melee e armas de longo alcance, com apenas três por onde escolher em cada categoria. De maneira a dar alguma variedade ao jogo, e conferindo-lhe uma certa abordagem roguelike, existem também cartas que podem ser desbloqueadas, atualizadas, equipadas ou destruídas antes e durante cada capítulo e que conferem benefícios adicionais, desaparecendo assim que chegares ao fim da missão.
O gameplay peca pelo fator repetitivo e falta de originalidade
Estes capítulos são bastante pequenos, o que não favorece de todo o jogo, e são divididos em diferentes secções que culminam numa boss fight. Infelizmente, as missões do jogo consistem quase sempre no mesmo, obrigando-te a eliminar ondas de inimigos uma e outra vez, “ad nauseam”, num ciclo que roça a insanidade. Nem a adição de novos inimigos (como healers, versões mais poderosas ou com ataques à distância) ajuda a colmatar esta sensação de repetição. O facto de o jogo ter um look muito pouco distinto, passando de paisagem branca em paisagem branca que acabam por se misturar no cérebro, também não ajuda e estava sempre à espera de uma mudança nesse sentido que nunca veio. Os bosses quebram um pouco essa monotonia e, apesar de serem igualmente corriqueiras, apresentam algumas ideias curiosas e uma mudança de ares muito necessária.
O próprio gameplay parece pouco preciso, e por múltiplas vezes o avatar parece não querer obedecer aos meus comandos. O facto de não ser possível fazer lock-on pode ser particularmente enervante, com a personagem a esfaquear regularmente o ar em torno dos inimigos, e acredito que teria beneficiado bastante a experiência final: dei por mim a utilizar quase sempre o arco e flecha já que as espadas não me mostraram qualquer confiabilidade.
Ao longo do jogo, existem dois tipos de “moeda” essenciais para o teu progresso: papel higiénico e Dark Matter. O primeiro é usado para atualizar cartas especiais que concedem novas habilidades e bónus de armas, enquanto a Dark Matter é usada para atualizar as habilidades do teu personagem e são concedidas pelo cocó natalício mais famoso da televisão: Mr. Hankey. Essas habilidades persistem durante o resto do jogo e podem influenciar a tua saúde, stamina, força, entre outros.
As cartas aleatórias elevam o combate
De facto, a natureza aleatória das cartas elevam o combate do jogo e conferem-lhe uma dimensão estratégica divertida; antes do capítulo, terás de escolher uma “Bullshit Card” com usos limitados que pode, por exemplo, tornar-te gigante, permitir-te lançar lasers, descarregar meteoritos na arena ou tornar-te invisível. No entanto, ao longo do capítulo, Jimmy vai oferecer-te cartas que permitem melhorias “fixas” como mais dano, maior diâmetro do totem curativo, setas extra ou criar uma maior nuvem de fumo tóxico. Isto faz com que cada partida seja única, adicionando-lhe uma camada extra de estratégia que é essencial num jogo como este.
South Park: Snow Day! não é a sequela que os jogadores queriam. O esqueleto para um jogo divertido está lá, e houve momentos realmente divertidos, mas a marca South Park foi subaproveitada; depois de Stick of Truth e Fractured but Whole, as expectativas estavam em alta e, infelizmente, ficaram muito aquém do esperado. Como fã de longa data de South Park, fiquei desiludido.
Prós: | Contras: |
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