A Justiça de Mairiporã, na Grande São Paulo, revogou a prisão do operador de máquinas Henrique Moreira Lelis, 34.
Ele era apontado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público como um dos envolvidos na emboscada a dois ônibus da torcida do Cruzeiro em 27 de outubro. A briga entre integrantes da Mancha Alviverde e da Máfia Azul resultou na morte do motoboy José Victor Miranda, 30.
A revogação ocorre após a Folha revelar, nesta segunda-feira (4), que Lelis estava a 400 km da briga.
Nesta terça-feira (5) o advogado de Lelis, Arlei da Costa, do escritório AC Criminal, esteve na delegacia responsável pela investigação e apresentou documentos como cartões de embarque e um relatório de uma empresa de táxi que transportou Lelis do aeroporto Santos Dumont até a residência dele, em um bairro na cidade do Rio de Janeiro.
O celular do homem também foi apresentado. Segundo Costa, os sinais confirmaram que ele estava no Rio de Janeiro no momento da briga, ocorrida na rodovia Fernão Dias, na altura de Mairiporã.
O Ministério Público, que havia concordado com o pedido de prisão, aceitou as provas apresentadas e foi favorável a revogação.
O juiz determinou que Lelis mantenha seu endereço e número de telefone atualizados.
Defesa apontou erro em reconhecimento
A defesa apontava um erro no reconhecimento facial como fator para colocar o palmeirense entre os participantes da confusão. Lelis é o único homem negro dos oito membros da Mancha que tiveram a prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça.
Procurada na segunda para comentar a alegação do advogado, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) negou que Lelis tenha sido identificado por meio de reconhecimento facial. “A identificação é resultado do trabalho de investigação e inteligência realizado pela Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva. Juntamente com outros envolvidos no caso, ele teve a prisão decretada pela Justiça e é procurado pela equipe da especializada”, afirmou a pasta em nota.
Segundo Arlei da Costa, o delegado responsável pela investigação afirmou, durante conversa nesta terça, que não houve uso de tecnologia no possível reconhecimento de Lelis.
A suposta identificação do operador de máquinas foi atribuída a ele ser um dos ocupantes de um Chevrolet Celta que esteve no local da briga. Do veículo teriam saltado três pessoas. Uma delas seria o proprietário do automóvel, um mesmo homem que havia sido detido com Lelis em 2011 em uma briga entre torcedores do Palmeiras e do Corinthians na zona oeste de São Paulo.
De acordo com Costa, as características físicas semelhantes entre Lelis e o homem levaram os investigadores a pensar se tratar do operador de máquinas. Para isso houve a comparação com fotos de perfil de Lelis em uma rede social com a do homem no local da emboscada.
“Fundamentaram uma semelhança com olhos nus entre o Lelis e quem estava no ataque. Ele [o delegado] pegou os documentos originais, pegou o celular, pediu para operadora enviar o relatório de Erbs (estações de rádio base) e confirmou a história. O próprio delegado representou pela revogação”, disse o advogado.
De acordo com Costa, Lelis se mudou para o Rio de Janeiro em 2012 para trabalhar. Há cerca de um mês a empresa para a qual colabora o enviou para executar serviços em Goiânia.
Lelis retornou para o RJ no sábado, ou seja, um dia antes da briga na rodovia Fernão Dias. Lelis, conforme Costa, desembarcou no aeroporto Santos Dumont por volta das 22h45. Ele então tomou um táxi de uma empresa parceira a qual ele trabalha e chegou em casa às 23h56.
Segundo a defesa, a distância entre a residência de Lelis e o ponto da briga é de 425 km, que poderia ser percorrida em 5h50 de carro. “A briga foi por volta das 5h. Ele não conseguiria chegar.”
Costa afirmou à reportagem ter um vídeo em que Lelis e a esposa estão em um comércio no Rio de Janeiro às 12h26 de domingo.
Conforme o advogado, a empresa de táxi enviou uma declaração em que confirma o transporte de Lelis do aeroporto até a casa dele.
“Juntei documentos e peticionei no processo. Um exercício simples de lógica, não tem como ele estar no local dos fatos. Vou levar para a Drade os originais do cartão de embarque e o relatório da empresa de táxi com todo o trajeto que ele fez. Vou entregar o celular dele”, disse Costa.