Terça-feira, 15 de outubro. Acordei péssima. Na verdade, nem dormi. Fui deitar às duas da madrugada e levantei às cinco, sem desligar um só minuto do celular. Fiquei ruminando as preocupações durante toda a madrugada.
Um trabalho que estava empacado por questões burocráticas. Um problema de saúde na família. Uma mensagem grosseira de uma pessoa que pede “favorzinhos de cinco minutinhos” o tempo todo.
Tentei meditar… Não consegui. Tentei acabar de ler um livro… Não consegui. Tentei escrever minha coluna para a Folha… Não consegui.
Às 9 horas, na frente do meu prédio, começa a obra interminável de construção de um shopping. No meu prédio, dois apartamentos em obra. Barulho infernal.
Coloquei um pratinho com banana e mamão para os passarinhos que sempre vêm cantar na janela do meu escritório e fui fazer o que sempre faço para desestressar: exercícios na Academia da Terceira Idade, no parquinho perto da minha casa. Apesar de estar aguardando um telefonema importante, decidi não levar o celular.
Demorei muito a ter celular, e mais ainda a ter WhatsApp, Instagram etc., mas acabei comprando um aparelho por motivos profissionais. Hoje, o celular é uma das minhas maiores fontes de ansiedade. Tenho procurado ficar bem longe do celular quando saio para desestressar e também quando estou em casa, lendo ou escrevendo, para conseguir me concentrar no trabalho. Na verdade, sei que preciso urgentemente fazer um detox total do celular, mas ainda não é possível.
Mal comecei os meus exercícios nos aparelhos da Academia da Terceira Idade, chegou uma mulher com duas crianças. Eu não acreditei: ela estava fumando e falando alto no celular. Já havia visto de tudo no parquinho, inclusive mulheres fazendo exercícios e falando alto no celular, mas nunca havia visto alguém fumando dentro do local e fazendo exercícios ao mesmo tempo. Como sou a “boazinha”, que não briga nem discute com ninguém, fui embora. Parecia que tudo estava conspirando para eu me sentir péssima e completamente à mercê dos comportamentos e atitudes desrespeitosas e desagradáveis dos outros.
Apesar do sol forte, fui caminhar na areia da praia de Ipanema. Caminhei mais de uma hora e, ainda ruminando os problemas, me sentei na areia quente e fiquei observando as crianças brincando no mar.
Sem mais nem menos, comecei a cantar a música de Lulu Santos e Nelson Motta:
“Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia
Tudo passa, tudo sempre passará
A vida vem em ondas como um mar num indo e vindo infinito
Tudo que se vê não é igual ao que a gente viu há um segundo
Tudo muda o tempo todo no mundo
Não adianta fugir nem mentir pra si mesmo
Agora há tanta vida lá fora aqui dentro sempre
Como uma onda no mar…
Como uma onda no mar…
Como uma onda no mar…”
Cantei bem alto, acho que umas dez vezes, só olhando para as ondas do mar.
Algumas pessoas passaram por mim, sorriram e também cantaram.
De repente, toda a minha raiva, angústia e ansiedade foi embora… nas ondas do mar…
Os problemas continuaram, ainda sem solução. Mas parei de ficar ruminando cada um deles, pois, infelizmente, não tenho controle sobre os comportamentos dos outros.
Fui para casa cantando. Assim que cheguei, sentei na cadeira do meu escritório e fiquei observando um bem-te-vi cantando na minha janela. E chorei…
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