A menopausa está na moda, diz a neurologista Lisa Mosconi. O tema ganhou fôlego com porta-vozes famosas como Oprah e Halle Berry e, no Brasil, a apresentadora Fernanda Lima. Mosconi, que é professora da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, valoriza o movimento. Ela se debruça sobre o assunto há décadas para entender o efeito dos hormônios no cérebro das mulheres, pesquisa documentada em “O Cérebro e a Menopausa”, lançado no Brasil pela editora HarperCollins.
“É importante definir a menopausa. Não é uma doença e não é apenas envelhecimento”, diz. Para ela, é uma transição, que envolve hormônios e sistema neurológico —que Mosconi afirma estarem profundamente conectados.
A neurologista diz que, quando esses hormônios foram descobertos, na década de 1930, foram nomeados de hormônios reprodutivos —erroneamente, segundo ela, já que o estrogênio não atua só na sexualidade. Demorou mais 60 anos para que se compreendesse outras funções da substância.
Alguns sintomas típicos da menopausa explicam essas funções. Mudança de humor, ansiedade, insônia, depressão e até as ondas de calor. O que acontece é que os ovários param de produzir estrogênio no ritmo usual e o cérebro para de recebê-los.
“São os mensageiros químicos que os ovários enviam pela corrente sanguínea e vão parar em todos os lugares do corpo, inclusive no cérebro”, diz Mosconi. “Acredite ou não, a ovulação parte do cérebro, não dos ovários. Os ovários comunicam o cérebro que estão prontos e o cérebro libera hormônios específicos de volta para os ovários. Tudo funciona em ciclos. Quando o ovário faz seu ciclo, o cérebro tem um microciclo.”
Isso não significa que as mulheres sejam governadas por hormônios, como se associa na sabedoria popular. Significa, segundo Mosconi, que o cérebro e os hormônios estão ligados.
Essa conexão não aparece só na menopausa. Os sintomas da puberdade já dão pistas da transformação neurológica que as mulheres vivenciam. É um período que, segundo Mosconi, existe maior propensão a sintomas parecidos, como depressão e ansiedade, além de insônia.
A médica diz que, na puberdade, acontece um processo de perda de quase metade dos neurônios. Pode parecer contraintuitivo, ela diz, mas é uma mudança positiva. Segundo a interpretação de Mosconi, com a chegada da capacidade reprodutiva, o cérebro se especializa, fica mais compacto, e se livra dos neurônios que não precisa e que seriam um fardo.
Na gravidez se dá um processo similar. “Há um pico de hormônios que cai quando o bebê nasce. E aí acontece outra reprogramação do cérebro”, diz Mosconi. Ela associa o comportamento protetor “de mamãe urso” a essa mudança hormonal, que fortalece partes mais agressivas do cérebro, enquanto facilita a ansiedade e depressão. Alguns anos depois, o equilíbrio se reestabelece. Até a menopausa.
“Existe uma redução de massa cinzenta depois da menopausa. O fluxo do cérebro muda”, diz Mosconi. Isso vem associado aos sintomas já conhecidos: ondas de calor, confusão, queda de libido, sintomas depressivos, sudorese, dificuldade para dormir. Mas não é só um mar de pontos negativos, ela afirma. Estudos sugerem que mulheres se tornam mais empáticas depois da menopausa.
Um desafio, diz Mosconi, é falar sobre o tema. “Precisamos saber o que estamos vivendo.” Ela diz que as meninas são preparadas para a puberdade e que as gestantes são preparadas para a gravidez, o parto e a maternidade. A menopausa, porém, “vem sem que ninguém tenha ideia do que ela é“.
Ela diz que muita pesquisa ainda precisa ser feita sobre o tema —e que a medicina ocidental, embora excelente em tratar problemas específicos, ainda falha com a menopausa.
“É um tema que foi historicamente associado à função ovariana. Ou seja, você entra na menopausa e vai ao ginecologista. Mas eles não são treinados para lidar com saúde mental, e nem deveriam”, diz. Os neurologistas e psiquiatras, por outro lado, também não sabem lidar com a menopausa.
Mosconi diz que os humanos estão entre as poucas espécies de animais em que as mulheres têm parte grande da vida além do período reprodutivo. “Deve haver alguma coisa que permite que nossos cérebros e corpos continuem funcionando”, diz a neurologista. Resta saber o quê.
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