Captura o espírito e a forma das tartarugas ninja, mas introduz um conceito e uma série de mecânicas bem gizadas e oriundas de um género menos explorado dentro deste universo.
A celebrar 40 anos do comic das Tartarugas Ninja produzido por Kevin Eastman e Peter Laird, em 1984, é impossível não pensar nesse corpo unificado oriundo do papel e em pouco anos transposto para a televisão, cinema e formato jogo, como um fenómeno da cultura popular. Nestes 40 anos de ramificações e desenvolvimentos, as tartarugas transportaram uma imagem carismática do livro de super heróis, refazendo-se nas mais variadas formas. A década de 1990 conheceu uma projecção notável: o tempo dos super heróis vendidos em figuras de plástico, estampados em camisolas, bolas de borracha, cromos, bilhetes de cinema e em ecrãs cintilantes das máquinas arcade da Konami.
Prenhes de radioactividade, as tartarugas mutantes e dotadas de habilidades das artes marciais distinguem-se pela atribuição de nomes importantes do período da Renascença Italiana. Raphael, Michelangelo, Leonardo e Donatello reunem-se numa Nova Iorque ameaçada por vilões. É nos esgotos da cidade, por entre os canais profundos, que as tartarugas mutantes escutam Splinter, o seu mestre.
A luta contra o crime e a devoção por uma caixa de pizza são o adn destas tartarugas joviais, que movidas por um intrínseco e comum desejo, procuram refazer a ordem e encarcerar Shredder e o seu exército de lacaios. As produções são tantas, especialmente nos videojogos, que por vezes a narrativa associada a um novo desenvolvimento ou videojogo acaba por ser um formalismo. Privilegiando a acção, as habilidades e os super poderes, raramente um jogo das tartarugas ninja foge a um destino traçado há muito.
Salto da Apple Arcade para a Nintendo Switch
É nos confrontos directos nas ruas, nos esgostos, no topo dos edifícios, entre outros locais, que as tartarugas colaboram e aprimoram as técnicas de combate ofensivas e defensivas, neutralizando as ameaças e os vilões oriundos dos portais. Ainda que haja um notório afastamento face aos jogos de acção 2D em formato side scroll horizontal, Teenage Mutant Ninja Turtles: Splintered Fate mantém a identidade e grande parte do conceito mecânico e visual dos primeiros jogos da série.
TMNT Splintered Fate é um dos jogos que chega às consolas – à Nintendo Switch -, depois de lançado originalmente na plataforma Apple Arcade. O jogo é uma produção do Super Evil Megacorp e pode ser jogado na Switch através de uma colaboração com a Nintendo. Sob a licença do Nickelodeon, o estúdio materializou um conceito e conjunto de mecânicas típicas de um roguelike ao mesmo tempo que capturou com sucesso o universo das tartarugas ninja, servindo o jogador com um conjunto de “easter eggs” cuidadosamente colocados em momentos cruciais da narrativa.
O desenho do jogo é feito tendo por base os comics, em especial os mais recentes lançamentos, com destaque para o trabalho de Tom Waltz, ele que também ajudou a desenvolver o guião de Splintered Fate, juntamente com Kevin Michael Johnson. O desaparecimento de Splinter pela mão do vilão Shredder é o ponto de partida para uma aventura que se desenvolve em diferentes espaços na cidade de Nova Iorque. Nos esgotos, nos telhados dos prédios e em parques, os quatro heróis partilham esforços na tentativa de erradicar o mal que se propaga através de misteriosos portais. É uma operação de resgate significativa, pelo meio de alguma pesquisa científica e intensa actividade. Para quem só pretenda jogar pelo argumento, o grau de dificuldade não é elevado.
Complexo sistema de evolução de personagem
Enquanto roguelike, o conceito de Splintered Fate é levado ao ponto de garantir uma ampla personalização da tartaruga escolhida. Michelangelo, por exemplo, possui uma grande capacidade de cobertura em cada área e produz mais danos, enquanto que Leonardo é forte em danos e na suavidade dos golpes. Raphael é mais apto a produzir danos críticos nos inimigos e Donatello com uma maior reserva de saúde, tem foco na utilidade. O ritmo dos combates é rápido e frenético, podendo cada tartaruga servir-se de um conjunto de poderes passíveis de utilização por períodos de tempo, quando está em “cooldown”.
Numa acção dividida por capítulos, o objectivo consiste em derrubar os inimigos que vão sucedendo em forma de vagas. Depois de vencidos, há um conjunto de recompensas a receber. No caso dos capítulos mais avançados, as recompensas tendem a melhorar drasticamente a eficácia da personagem em combate, podendo activar diferentes habilidades ou incrementar as desejadas, mas os rivais serão igualmente reforçados, pelo que o grau de dificuldade tende a ser equilibrado. Contudo, alguns poderes são temporários e duram apenas pelo capítulo. Em cada regresso à base, os poderes desaparecem.
Já as Dragon coins e Dreamer coins podem ser gastas a melhorar os poderes e habilidades dos lutadores, quando se encontram na base, no seu lar. Trata-se de um conjunto de habilidades que vai dos dash, aos golpes, passando pelas habilidades únicas. É interessante conjugar estas vertentes, já que algumas combinações desbloqueiam poderes únicos e especiais. O acesso às estações de moedas Dragon e Dreamer permitem uma melhoria dos indicadores de saúde e danos, entre outros bónus. Alguns artefactos também podem ser equipados, visando um conjunto de efeitos, sendo que estes também podem ser melhorados através das diferentes unidades monetárias. No fundo isto resulta numa ampla escolha de poderes, uma via de personalização bastante ampla e não raro complexa.
Num jogo que pode ser jogado a solo ou por via cooerativa até 4 jogadores, a primazia é dada ao multiplayer local com uma só Switch para quatro tartarugas ao mesmo tempo. Se as salas online são uma opção para jogar à distância pela via cooperativa (através da opção por convite), as partidas em modo Switch até quatro jogadores ao mesmo tempo funcionam como uma brecha para o caos e oportunidade de incremento dos poderes, numa partilha de emoções no mesmo espaço.
Como os power ups e os bónus nunca são os mesmos durante uma partida, e a sua duração pode ir dos vinte minutos até à hora de jogo, ainda que o grosso das mecânicas se mantenha inalterável, as condições de combate numa partida nunca são as mesmas da anterior. Há um factor de imprevisibilidade, uma fórmula decorrente do género rogelike que em Splintered Fate é materializada por um sofisticado sistema de personalização das tartarugas. Na realidade, não existem duas partidas iguais, embora o núcleo do jogo permaneça. E nessa amplitude generosa de “power ups” e bónus, é um jogo TMNT bastante diferenciador da linha dominante dos jogos das tartarugas. Além disso, adapta-se muito bem à Switch, tanto pela experiência a solo como através da partilha do ecrã do televisor com até quatro jogadores em torno.
Prós: | Contras: |
|
|