A defesa do operador de máquinas Henrique Moreira Lelis, 34, procurado pela polícia após ser identificado como suspeito pela investigação que apura uma emboscada da Mancha Alviverde contra torcedores cruzeirenses da Máfia Azul, negou que seu cliente tenha participado da confusão que resultou na morte do motoboy José Victor Miranda, 30.
A briga ocorreu no final da madrugada de domingo (27) na rodovia Fernão Dias, na altura da cidade de Mairiporã, na Grande São Paulo. Um outro torcedor do time mineiro segue internado em estado grave no Hospital de Franco da Rocha.
Segundo o advogado Arlei da Costa, do escritório AC Criminal, Lelis estava a mais de 400 km do local do crime. A defesa culpa um erro no reconhecimento facial como fator para colocar o palmeirense entre os participantes da confusão.
Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) nega que Lelis tenha sido identificado por meio de reconhecimento facial. “A identificação é resultado do trabalho de investigação e inteligência realizado pela Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva. Juntamente com outros envolvidos no caso, ele teve a prisão decretada pela Justiça e é procurado pela equipe da especializada.”
Lelis é o único homem negro dos oito membros da Mancha com prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça.
Policiais civis tentaram cumprir a ordem de prisão na sexta-feira (1º), mas não o localizaram. Segundo as investigações, ele mora em uma cidade na Grande São Paulo. Já o advogado afirmou que ele reside no Rio de Janeiro.
A Folha teve acesso a um relatório de investigação que traz duas fotos de Lelis. Uma obtida através das redes sociais e uma outra de um frame de vídeo no local da confusão.
Assim como o advogado Gilberto Quintanilha, que atua na defesa de outros quatro torcedores, Costa diz não ter tido acesso ao inquérito, que tramita sob sigilo. Ele afirma que o juiz negou o acesso na manhã desta segunda por ainda terem buscas a serem realizadas.
“Independente do que a polícia tenha apresentado contra meu cliente, tenho provas documentais que o tiram do local dos fatos”, disse Costa para a Folha.
Para ele, o erro na identificação expõe as limitações do uso da tecnologia pelas forças de segurança e coloca em risco a integridade física do trabalhador.
“As poucas informações que temos são as noticiadas pela imprensa, e o que consta é que houve o reconhecimento facial de Henrique por meio de fotos no local, e isso é uma violação aos direitos fundamentais do meu cliente, pois é fruto de um erro”, afirma.
Dos oito torcedores com a prisão decretada, apenas um foi preso. Ele foi localizado na sexta na Freguesia do Ó, na zona norte da capital.
‘Não tem como ele estar no local dos fatos’, diz advogado
De acordo com Costa, Lelis se mudou para o Rio de Janeiro em 2012 para trabalhar. Há cerca de um mês a empresa para a qual colabora o enviou para executar serviços em Goiânia.
Lelis retornou para o RJ no sábado, ou seja, um dia antes da briga na rodovia Fernão Dias. Lelis, conforme Costa, desembarcou no aeroporto Santos Dumont por volta das 22h45. Ele então tomou um táxi de uma empresa parceira a qual ele trabalha e chegou em casa às 23h56.
Segundo a defesa, a distância entre a residência de Lelis e o ponto da briga é de 425 km, que poderia ser percorrida em 5h50 de carro. “A briga foi por volta das 5h. Ele não conseguiria chegar.”
Costa afirmou ter um vídeo em que Lelis e a esposa estão em um comércio no Rio de Janeiro às 12h26 de domingo.
Conforme o advogado, a empresa de táxi enviou uma declaração em que confirma o transporte de Lelis do aeroporto até a casa dele.
“Juntei documentos e peticionei no processo. Um exercício simples de lógica, não tem como ele estar no local dos fatos. Vou levar para a Drade os originais do cartão de embarque e o relatório da empresa de táxi com todo o trajeto que ele fez. Vou entregar o celular dele”, disse Costa.
O advogado pediu à Justiça a revogação da prisão temporária.
Ainda conforme as apurações, Lelis, conhecido como Ditão Mancha, se envolveu em uma briga em 2011 no cruzamento da avenida Henrique Schaumann e rua Teodoro Sampaio. Um outro torcedor procurado também esteve presente na confusão. Naquele dia houve um jogo entre Corinthians e Palmeiras no Pacaembu.
O advogado confirmou a participação na confusão, mas, conforme ele, Lelis não foi chamado para retornar à delegacia.
A SSP diz que Lelis foi encaminhado na época para a delegacia, onde prestou depoimento e foi qualificado como uma das partes de ocorrência de lesão corporal, associação criminosa e incitação a tumulto. “Após a autoridade policial ouvir todas as partes envolvidas, incluindo vítimas e testemunhas, ele foi liberado sem indiciamento.”