Entregas da Prefeitura de São Paulo em áreas como mobilidade, moradia e saúde dispararam no último ano pré-eleitoral, após dois anos estagnadas ou crescendo em ritmo lento, mostram dados do Programa de Metas de Ricardo Nunes (MDB), reeleito no último dia 27.
Asfaltamento de ruas, obras em pontes e viadutos, manutenção de calçadas e implantação de faixas azuis para motociclistas são algumas das medidas que cresceram acentuadamente entre junho de 2023 e junho de 2024, data do último balanço semestral.
Também entram nessa lista outras políticas mais visíveis ou que têm impacto direto na vida da população, como a construção de equipamentos de saúde, a inauguração de parques, o plantio de árvores e a expansão de serviços como o Descomplica SP, espécie de Poupatempo municipal.
Questionada sobre a aceleração das entregas citadas, a prefeitura afirmou que, “para cada intervenção prevista no Programa de Metas, há um ritmo específico de execução, que considera prazos, grau de complexidade dos projetos, licenciamento, licitações, entre outras etapas”.
Disse ainda que, no primeiro ano do mandato, “esteve voltada prioritariamente às ações de enfrentamento da Covid-19”. Acrescentou que, até a última quarta-feira (30), cumpriu 51 das 86 metas e, até o fim do ano, atingirá um índice superior ao registrado em gestões anteriores.
“Com o objetivo de ampliar a transparência, a prefeitura tem realizado atualizações de forma constante [no acompanhamento do Programa de Metas], sempre que possível, mensalmente, apesar de a Lei Orgânica do Município estabelecer a prestação de contas a cada seis meses”, complementou.
Nunes assumiu a prefeitura em maio de 2021, quatro meses após a posse de Bruno Covas (PSDB). Em três anos de governo, até o primeiro semestre deste ano, ele cumpriu metade das 86 metas do plano. Dessas, 67% foram finalizadas durante o ano anterior à campanha eleitoral, iniciada em agosto.
“Eu vou ficar muito próximo de 90%”, afirmou ele na última terça-feira (29), a dois meses do final do atual mandato.
Durante a corrida, o prefeito usou os feitos de sua gestão como principal linha de discurso. Chegou a exaltar, por exemplo, a execução de cerca de 8.400 obras (entre as quais 1.800 estariam em andamento), mas, questionada durante a campanha, sua equipe nunca detalhou a que elas se referiam.
Do outro lado, seu adversário Guilherme Boulos (PSOL) tentou insistir na versão de um prefeito ausente, que “deixou a cidade largada por três anos” e “só aparece em tempo de eleição”. A imagem não colou, e o emedebista se reelegeu com quase 20 pontos percentuais de diferença.
Uma das ações que Nunes mais impulsionou no último ano pré-campanha foi a Faixa Azul, mostra o Programa de Metas. O prefeito implantou 23 km entre o fim de 2021 e meados de 2023, número que saltou para 121 km no ano seguinte —durante a eleição, ele atingiu os 200 km previstos.
O corredor exclusivo para motociclistas é uma de suas principais bandeiras, foi elogiada até por Boulos durante a campanha e deve ser expandida no próximo mandato, apesar de o número de mortes no trânsito ter crescido nos primeiros oito meses do ano.
O prefeito usa a Faixa Azul como exemplo para justificar a dificuldade em cumprir as metas estabelecidas por Covas: “O plano de metas sofre alterações com as necessidades que vão surgindo. Não vou ficar engessado se outros setores precisam ser atendidos”, afirmou ele. “A gente não tinha a Faixa Azul no plano de metas inicial, [mas houve aumento de óbitos dos motociclistas].”
Outra das vitrines da atual gestão é o asfalto: a quantidade de ruas recapeadas mais do que dobrou, de 8 milhões para 18 milhões de m² no último ano, bem como a manutenção de calçadas, que passou de 401 mil para 822 mil m² reparados no mesmo período.
Já em pontes, viadutos e túneis, a prefeitura fez aproximadamente 11 obras de manutenção ou recuperação por semestre nos primeiros anos de mandato. No último, essa média semestral subiu para 29.
A Folha mostrou que os investimentos em pavimentação costumam aumentar em ciclos eleitorais em São Paulo e chegaram a um recorde com Nunes. Representaram, no ano passado, 11 vezes mais do que os investimentos na melhoria e construção de corredores de ônibus (à esquerda da via) —esses chegaram só a 10% da meta até agora, com 4,1 km inaugurados dos 40 km prometidos.
Na saúde, também houve uma aceleração na entrega de novos equipamentos. Se nos anos iniciais a prefeitura finalizou uma média de cinco unidades por semestre, no ano final essa média foi de 15, o triplo.
O número de UPAs (Unidades de Pronto-Atendimento) implantadas ficou estacionado em nove até junho de 2023, saltando depois disso para 15. O mesmo ocorreu com os serviços de saúde bucal implantados na atenção básica, especializada e de urgência, que, antes a passos lentos, passaram de 9 para 21 no ano pré-eleitoral.
Na área da moradia, um dos índices que teve aceleração mais clara foi a regularização fundiária, ou seja, a documentação, análise técnica e registro da posse de imóveis ou terrenos. Elas beneficiaram apenas 30 mil famílias até meados do ano passado. Doze meses depois, englobavam 131 mil.
Em termos de novas casas —âmbito no qual Nunes exalta ter criado o maior programa habitacional da cidade de São Paulo, o Pode Entrar—, foram 6.000 “viabilizadas” de junho de 2022 a junho de 2023, e então mais de 13 mil no ano seguinte (a conta inclui unidades em fase de contrato, obra ou entregues).
No tema das áreas verdes, Nunes implantou inicialmente três parques, número que ficou estagnado até junho de 2023. No último ano, a quantidade pulou para oito. Já a média de árvores plantadas foi de 21 mil por semestre no período inicial da gestão, e mais do que dobrou para 44 mil pré-eleições.
Há ainda outras ações com possível impacto diário no eleitorado aceleradas no período: a quantidade de pontos públicos de wi-fi, antes paralisada em cerca de 6.000, disparou para 12 mil. A porcentagem de ônibus equipados com internet grátis e ar-condicionado, estagnados em 36%, também dobrou para 71%.
Os postos de atendimento do Descomplica SP, onde o paulistano pode pedir o seguro-desemprego e se cadastrar para receber benefícios sociais, até então presentes em três subprefeituras, foram expandidos para as 32 áreas no último ano.
Por outro lado, há medidas que tiveram aumento mais uniforme durante a gestão de Nunes. As faixas de ônibus (à direita da via) são uma delas, com uma média de 18 km implantados por ano. Outra é o número de moradias populares licenciadas, 130 mil anuais. Há metas também com implementação mais irregular.