A marginal do rio Pinheiros deixou de ser um vazio urbano e virou um eixo de instalação de grandes empreendimentos comerciais e residenciais de luxo nas duas últimas décadas. Tornou-se um ponto nobre da cidade. As duas margens do rio foram tomadas por grandes edifícios e novas obras não param de surgir.
Essas iniciativas indicam que a despoluição do Pinheiros se tornou mais provável e a região ao redor pode virar uma grande área de lazer. Quem mora ou trabalha nessas novas construções deseja apreciar um cenário mais atraente, com um rio despoluído e navegável.
Os milhares de paulistanos que frequentam a ciclovia que margeia o Pinheiros também querem respirar um ar inodoro e não um cheiro nauseabundo. Ao longo da pista, que tem uma extensão de 21,5 quilômetros, há hoje cafés, lojas e postos de aluguel de bicicleta. O fedor diminuiu bastante, mas não desapareceu, como pôde ser constatado neste domingo.
O último lance dessa renovação da paisagem foi a construção de um novo e luxuoso espaço de eventos que será administrado pela Casa Fasano ao lado da antiga usina da Traição, hoje usina São Paulo.
Entregue à iniciativa privada, toda a área do complexo, onde no passado havia uma vila operária para funcionários da Light, foi revitalizada e a construção principal da usina vai ser um prédio de escritórios com espaços comerciais e gastronômicos. Está prevista também a instalação de um cinema a céu aberto, de um café e de um mirante.
O rio ainda está longe de ficar limpo e ainda se vê muito lixo boiando por ali. As capivaras dão um ar bucólico para o lugar, mas elas se adaptam bem a águas poluídas.
Até os moradores das torres construídas atrás do shopping Cidade Jardim, um dos mais luxuosos da cidade, deverão ficar satisfeitos quando souberem que lá embaixo corre um rio menos poluído.
Desde o começo dos anos 1990 se fala da limpeza do Pinheiros e do Tietê. O governo gastou uma fortuna nesse processo, mas a mudança tem sido mais lenta do que se esperava.
O ex-governador João Doria disse, em 2019, que o Pinheiros estaria despoluído até o final de 2022. Esse prazo venceu há dois anos e agora a meta é 2029, quando se espera controlar todo lançamento de efluentes em suas águas.
Para atingir o objetivo final será necessário remover 1 milhão de metros cúbicos de detritos e melhorar a qualidade da água cheia de esgoto que vem de seus afluentes. Nos últimos anos foram feitas 650 mil ligações para desviar esse esgoto e encaminhá-lo para tratamento.
O principal indicador de limpeza de um rio é a DBO (demanda bioquímica de oxigênio), que é a quantidade de oxigênio consumida por microrganismos para decompor matéria orgânica.
Quando Doria anunciou seus planos, a DBO variava de 60 mg/l a 75 mg/l. Hoje, segundo as últimas medições, ela está entre 20 mg/l e 30 mg/l, dependendo do ponto de coleta. Ambientalistas questionam esses números. Para a ANA (Agência Nacional de Águas) um rio é considerado poluído com DBO acima de 10 mg/L.
Durante os últimos 30 anos foram investidos cerca de R$ 30 bilhões na despoluição do Pinheiros. Pode-se dizer que esse dinheiro deixou o rio mais vivo, mas ele ainda permanece doente. Há muito trabalho a ser feito para que a vida aquática floresça em suas águas e várias espécies de peixes voltem a aparecer.
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