Oito em cada dez pessoas não querem participar da vida política no país. É o que diz a pesquisa do Instituto Cidades Sustentáveis sobre Democracia, realizada pelo IPEC e lançada nesta quinta-feira (18). Aumento de quatro pontos em relação a 2022. Quando pensamos que nossa qualidade de vida coletiva depende da política, este afastamento cada vez maior não contribui para a melhoria das condições da população brasileira.
Quanto às prioridades para os políticos, a qualidade da saúde foi o tema mais lembrado, com dois terços das citações, seguida por qualidade da educação, geração de empregos, redução da violência e das desigualdades sociais. A pesquisa é um cardápio para os futuros prefeitos. O problema é que estas demandas têm se repetido no tempo, o que denota uma incapacidade dos políticos de efetivamente encaminharem soluções que proporcionem à população acesso a serviços públicos de qualidade.
Em se tratando da memória, 70% das pessoas não se lembram em quem votaram para deputado e senador na última eleição de 2022. Sete em cada dez! O número evidencia a falta de acompanhamento da população que, depois de votar, se afasta. Outro tema a ser enfrentado. Quem é o responsável por este afastamento? Os políticos não têm se esforçado em abrir espaços de participação e diálogo. E a redução da democracia ao ato de votar não dá conta das expectativas que alimentamos para a melhoria da qualidade de vida nas cidades e no país.
No que diz respeito à confiança nas instituições, as respostas mostram que a descrença está instalada na sociedade. A presidência da república tem a confiança de 35% da população; deputados federais, senadores e ministros do STF, de somente 20%. Fica evidente que o sentimento geral extrapola a frustração e a insatisfação; ele envolve aversão, desprezo e repulsa. Daí a importância de mudar o modo de atuação da política e a necessidade de retorno concreto para a população, que se mostra carente de atenção.
A incapacidade da política de proporcionar acesso a serviços públicos de qualidade também alimenta o ciclo de desinteresse na participação política, que se reflete na falta de lembrança em quem votou nas últimas eleições e que leva à desconfiança nas instituições e seus representantes. A valorização da democracia, chave para enfrentar os desafios de redução das desigualdades sociais e do enfrentamento às mudanças climáticas, depende de nossa capacidade de romper este ciclo vicioso. Como vimos nos últimos anos, o distanciamento da política estimulará o surgimento de candidatos aventureiros, violentos e oportunistas, garantindo a consolidação desta espiral insana.
Resta aos políticos estimular a participação da população com a abertura de espaços, não apenas formais, mas com atribuições de debater e elaborar propostas que sejam consideradas nas tomadas de decisão. A criação de um novo momento de aproximação está nas mãos dos políticos, mas também dos cidadãos e cidadãs que não podem abrir mão da participação e do contínuo controle da política. Só assim será possível enfrentar os desafios que temos pela frente.
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