Cientistas encontraram poluição plástica quase em todos os lugares onde procuraram. Nas nuvens. No Monte Everest. Na neve do Ártico. Agora, pela primeira vez, pequenas partículas de plástico foram detectadas na respiração de golfinhos.
Os achados, publicados na último quarta-feira (16) na revista científica PLOS One, apontam para a onipresença do lixo plástico no ambiente. A cada ano, quase 2 milhões de toneladas de plástico acabam nos oceanos do mundo.
O plástico também flutua no ar, e o novo estudo sugere que a aspiração pode ser uma forma significativa pela qual golfinhos e outros mamíferos marinhos são expostos a pequenas partículas de plástico, chamadas de microplásticos. Essas partículas, que se formam quando o plástico se decompõe, foram associadas à inflamação e danos celulares, e podem conter substâncias químicas prejudiciais.
“Isso realmente destaca o quão poluente o plástico é”, disse Leslie B. Hart, codiretora do Centro de Saúde Ambiental Costeira e Humana na Faculdade de Charleston, na Carolina do Sul, que liderou a pesquisa. “Temos plástico por toda parte. Realmente não há um lugar seguro para escapar dele”.
Outros animais são conhecidos por respirar plásticos, embora pesquisas na área ainda sejam escassas. No ano passado, cientistas no Japão detectaram microplásticos nos pulmões de aves selvagens lá. E pesquisadores estimaram que os seres humanos podem inalar ou ingerir mais de 100 mil partículas de microplástico por ano a partir dos alimentos e da água que consomem, e do ar que respiram.
Os golfinhos se tornaram um tema comum em pesquisas sobre poluição porque são encontrados ao redor do mundo, incluindo em áreas costeiras densamente povoadas. Isso os torna indicadores de exposição à poluição e outros riscos ambientais.
Para o estudo mais recente, Hart e Miranda K. Dziobak, uma bioquímica da Faculdade de Charleston, coletaram amostras de ar exalado de 11 golfinhos-nariz-de-garrafa na Baía de Sarasota, Flórida, e na Baía de Barataria, Louisiana. A pesquisa foi desenvolvida em parceria com o programa de pesquisa de golfinhos do zoológico Brookfield de Chicago.
Para capturar as amostras de ar, elas posicionaram uma placa de Petri logo acima do espiráculo (orifício respiratório) de cada golfinho enquanto ele exalava.
As pesquisadoram estavam tentando resolver um mistério. Em estudos anteriores, foram detectados ftalatos —substâncias químicas usadas em plásticos que são conhecidas por serem desreguladores endócrinos que podem prejudicar a saúde humana— em golfinhos na Baía de Sarasota em níveis consideravelmente mais altos do que os encontrados em humanos. A poluição plástica era uma possível fonte.
A análise detectou partículas de microplástico na respiração de todos os golfinhos testados. As partículas incluíam vários tipos de polímeros plásticos, como o polietileno tereftalato, conhecido como PET, bem como poliéster, um dos polímeros mais comuns usados em roupas.
“Quando você lava roupa, suas roupas liberam milhões de pequenas fibras plásticas”, disse Dziobak. “E o complicado com elas é que são tão pequenas, tão leves, que podem se deslocar facilmente na água, no ar”.
Os golfinhos são então expostos a essas fibras plásticas. “Os golfinhos respiram na superfície. Eles estão inalando os plásticos no ar”, disse Hart. As pesquisadoras também acreditam que as partículas de plástico na água estão sendo dispersas no ar pelas ondas.
Shannon Gowans, professora de ciências marinhas no Eckerd College em São Petersburgo, na Flórida, e chefe do Projeto Golfinho, que não esteve envolvida no estudo, classificou os resultados da pesquisa como preocupantes, principalmente após tempestades extremas como os furacões que acabaram de varrer a Flórida, sobrecarregando as estações de tratamento de águas e enviando água não tratada para o mar.
“O golpe duplo da tempestade é que também houve muito lixo que foi levado pela ressaca ou escorreu para a rede de esgoto”, disse ela. “Tudo isso está nas vias navegáveis agora. Vamos ver um aumento nos microplásticos na área”.
As cientistas da Faculdade de Charleston disseram que focariam seu próximo projeto de pesquisa nos danos à saúde específicos que os microplásticos poderiam estar causando nos golfinhos.
Os golfinhos prendem a respiração para perseguir presas debaixo d’água e têm grande capacidade pulmonar, disse Hart. “Por causa disso, pensamos que talvez estejam ingerindo doses mais altas de microplásticos no ar do que, por exemplo, um humano”, disse ela.
Então, o que as pessoas comuns podem fazer para ajudar? Reduzir a quantidade de plástico que você usa e descarta é um começo, disse Dziobak. Também é uma boa ideia usar suas roupas uma vez a mais antes de lavá-las, ou usar o ciclo frio da máquina de lavar, porque as fibras plásticas tendem a se soltar mais facilmente em água quente.
“Mesmo algo simples pode fazer a diferença”, afirmou Dziobak.