A Grande Mancha Vermelha de Júpiter é uma das maravilhas mais surpreendentes do Sistema Solar. Uma tempestade elíptica com redemoinhos de laranja e cobre, mais longa do que a largura da Terra e com ventos no topo das nuvens do planeta a cerca de 640 quilômetros por hora.
O ponto pode parecer uma característica inalterável à distância. Mas cientistas descobriram que ele está tremendo e mudando de forma, alongando-se repetidamente e depois contraindo-se enquanto viaja no hemisfério sul de Júpiter como uma bola vermelha quicando.
Astrônomos dizem que a Grande Mancha Vermelha nem sempre teve a mesma aparência. Entretanto, identificar que ela foi capaz de se transformar durante um período de observação de 90 dias foi chocante.
“Ficamos muito surpresos”, diz Amy Simon, astrônoma do Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa, e autora de um estudo publicado no último dia 9 no periódico The Planetary Science Journal.
Embora seja possível ver algo semelhante a uma bola na locomoção da mancha, alguns cientistas veem uma criatura viva.
A tempestade “se comporta como uma lesma, contraindo e esticando enquanto se move ao redor do planeta”, afirma o astrônomo James O’Donoghue, da Universidade de Reading, na Inglaterra, que não estava envolvido no estudo. “É uma grande lesma vermelha.”
Seja qual for a interpretação, os astrônomos não têm ideia do motivo pelo qual a mancha está se comportando dessa maneira. “É um mistério como esse processo funciona em termos de física subjacente”, diz O’Donoghue.
A Grande Mancha Vermelha, que gira no sentido anti-horário, tem sido observada continuamente nos últimos 150 anos. Provavelmente ela não esteve sempre presente em Júpiter, pelo menos não em sua forma atual, e suas origens não são claras.
O fato de a tempestade existir há tanto tempo provavelmente tem a ver com dois poderosos jatos de ar que a mantêm no lugar, afirma O’Donoghue. Eles mantêm as bordas da mancha girando enquanto também impedem a tempestade de se deslocar em direção ao equador ou aos polos, onde as forças atmosféricas e a rotação do planeta poderiam despedaçá-la.
A tempestade não está, porém, enraizada. “Deriva lentamente para o oeste, levando alguns anos para circundar o planeta”, diz Simon. E, conforme migra, acelera e desacelera ao longo de um ciclo de três meses. Esse ciclo, observado por décadas, ainda não foi explicado.
A tempestade está fazendo mais alguma coisa estranha enquanto acelera e depois freia repetidamente durante esses incrementos de 90 dias? Para descobrir, Simon e sua equipe observaram a mancha de dezembro de 2023 a março de 2024 usando o telescópio Hubble.
Durante esse ciclo de 90 dias, eles ficaram surpresos ao ver a tempestade mudando de tamanho. Quando ela se movia em um ritmo mais tranquilo, esticava-se; quando se movia mais rapidamente através de Júpiter, comprimia-se e se tornava mais compacta.
O fato de o ponto mudar de forma tão periodicamente era curioso. Mas, mesmo que a equipe não conseguisse explicar por que isso estava acontecendo, ela já sabia que a supertempestade tinha habilidades de mudança de forma.
“Uma forma tão alongada não é muito estável”, diz Simon. No final dos anos 1800, a tempestade era mais de três vezes mais larga que a Terra. Desde então, vem encolhendo rapidamente. Pode ser que, conforme as forças da natureza a empurram para buscar uma forma mais ideal, a mancha possa desaparecer.
O close-up do Hubble destaca que a Grande Mancha Vermelha, como quase tudo no Sistema Solar, está sempre mudando —uma exibição temporária de beleza que temos a sorte de testemunhar.