O objeto celeste que atingiu a Terra há 66 milhões de anos, no final do Cretáceo, causou uma calamidade global que condenou os dinossauros. Contudo, ele está longe de ser o maior meteorito a atingir nosso planeta.
Um até 200 vezes maior caiu há 3,26 bilhões de anos, desencadeando uma destruição em escala ainda maior. Mas, segundo uma nova pesquisa, seus efeitos podem na verdade ter sido benéficos para a evolução inicial da vida ao servir como “uma bomba de fertilizante gigante” para as bactérias e outros organismos unicelulares que dominavam à época, fornecendo acesso a fósforo e ferro.
Pesquisadores avaliaram os efeitos do impacto desse meteorito com base na análise de rochas antigas de uma região no nordeste da África do Sul chamada de Barberton Greenstone Belt (cinturão de rochas verdes de Barberton). Eles encontraram sinais abundantes —sobretudo da assinatura geoquímica de material orgânico preservado mas também de fósseis de tapetes de bactérias marinhas— de que a vida se recuperou após o choque.
“A vida não apenas se recuperou rapidamente, uma vez que as condições voltaram ao normal dentro de alguns anos a décadas, na verdade, ela prosperou”, afirmou a geóloga Nadja Drabon, da Universidade Harvard, autora principal do estudo publicado nesta segunda-feira (21) no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences.
A Terra era um lugar muito diferente quando isso ocorreu, e os impactos de meteoritos eram maiores e mais frequentes.
“Naquele momento, a Terra era algo como um mundo aquático, com pouca emergência de vulcões e rochas continentais. Não havia essencialmente gás oxigênio na atmosfera e nos oceanos, e não havia células com núcleo”, disse o geólogo Andrew Knoll, de Harvard, coautor do estudo.
O meteorito era de um tipo chamado condrito carbonáceo, rico em carbono e também com fósforo. Seu diâmetro era de aproximadamente 37 a 58 quilômetros, segundo Drabon.
“Os efeitos do impacto teriam sido rápidos e ferozes”, afirmou a geóloga. “O impacto foi com tanta energia que o meteorito e qualquer sedimento ou rocha que atingiu vaporizaram. E a nuvem de vapor de rocha e poeira ejetada do cratera teria circulado o globo e escurecido o céu em questão de horas.”
“O impacto provavelmente ocorreu no oceano, iniciando um tsunami que varreu o globo, arrancando o fundo do mar e inundando as costas. Por fim, grande parte da energia do impacto seria transferida para o calor, significando que a atmosfera começou a aquecer tanto que a camada superior dos oceanos começou a ferver”, acrescentou Drabon.
A pesquisadora afirmou que provavelmente teria levado de alguns anos a décadas para a poeira se assentar e para a atmosfera esfriar o suficiente para que o vapor de água retornasse ao oceano. Micróbios que dependem da luz solar e aqueles que viviam em águas rasas teriam sido dizimados.
Por outro lado, o meteorito teria entregue uma grande quantidade de fósforo, um nutriente para micróbios com papel crucial para as moléculas centrais no processo de armazenamento e transmissão de informações genéticas. O tsunami também teria misturado águas profundas ricas em ferro com águas mais rasas, criando um ambiente ideal para muitos tipos de micróbios, pois o ferro lhes fornece uma fonte de energia.
“Imagine esses impactos como gigantescas bombas de fertilizantes”, disse Drabon.
“Pensamos nos impactos de meteoritos como sendo desastrosos e prejudiciais à vida, sendo o melhor exemplo o impacto que formou a cratera Chicxulub [na península de Iucatã, no México] que levou à extinção não apenas dos dinossauros mas de 60-80% das espécies animais na Terra,” afirmou a geóloga. “Mas há 3,2 bilhões de anos, a vida era muito mais simples.”
“Os microrganismos são relativamente simples, versáteis e se reproduzem em taxas rápidas.”
A evidência do impacto incluía assinaturas químicas do meteorito, estruturas esféricas pequenas formadas a partir da rocha derretida pelo impacto e pedaços de leito marinho misturados com outros detritos agitados pelo tsunami em rochas sedimentares.