O governador Cláudio Castro (PL) decidiu exonerar o presidente da Faperj (Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), o médico Jerson Lima da Silva.
A exoneração foi comunicada na noite desta terça (22) ao professor por meio de uma nota da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação. A data da saída dele não foi anunciada e não houve, até o momento, publicação no Diário Oficial.
No mesmo dia, Castro nomeou como novo diretor de tecnologia da fundação o advogado Mauro Azevedo Neto, que foi secretário de Ciência e Tecnologia do estado até 2023, no lugar do físico e professor titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Aquilino Senra Martinez.
Por telefone, Silva disse à Folha que não daria nenhuma declaração sobre a exoneração, já que a indicação ao cargo cabe ao governador. “É claro que fico triste, mas entendo e agradeço ao governador pela confiança.”
A reportagem procurou nesta quarta (23) a assessoria da gestão Castro, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto.
A exoneração teria sido feita a pedido do secretário de Ciência, Anderson Moraes (PL), e assumiria o posto o ex-deputado federal Alexandre Valle Cardoso, segundo integrantes da comunidade acadêmica e na própria fundação —Cardoso não tem registro na plataforma Lattes, ligada ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que reúne currículos acadêmicos de pesquisadores no país.
Em carta endereçada a Cláudio Castro, a ABC (Academia Brasileira de Ciências) e a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) manifestaram “intensa preocupação da comunidade científica fluminense e brasileira ante os rumores de troca na direção da Faperj”.
As entidades elogiaram a atuação de Silva e pediram ao governador “que não faça da direção da Faperj um cargo de indicação partidária”.
“É nosso dever transmitir a preocupação que ora assola a comunidade científica, tecnológica e de inovação fluminense, com mudanças que impactarão a trajetória de sucesso da Faperj (…) e pedimos então que resguarde essa Fundação, à qual seu Estado e a ciência brasileira tanto devem”, diz a carta.
No cargo desde 2019 após ter sido indicado pelo ex-governador Wilson Witzel (PMB), Silva é professor titular do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo De Meis, da UFRJ, e coordenador do Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear Jiri Jonas. Seus estudos ajudaram a desvendar processos complexos envolvidos na formação de tumores, como a descoberta da função da proteína p53, conhecida como “guardiã do genoma”, no aparecimento de câncer, doença de Parkinson e outras doenças causadas por príons.
Nos últimos anos, os recursos disponíveis para pesquisa e inovação da Faperj aumentaram, passando de R$ 265,39 milhões em 2019 para R$ 574 milhões em 2023. A gestão de Silva criou editais para fixação de jovens pesquisadores no estado, aumentou o valor das bolsas de pós-graduação da fundação e estabeleceu um programa para fomentar a presença de meninas e mulheres nas ciências da computação, exatas e engenharia.
Para Marcus Fernandes de Oliveira, biólogo e professor associado do mesmo instituto de Silva, na UFRJ, se for confirmada, a exoneração seria um retrocesso. “O que causa surpresa é que o trabalho que Jerson [Lima da Silva] vem fazendo à frente da Faperj tem sido espetacular. A sua gestão trouxe de volta o financiamento à pesquisa no estado, principalmente durante o período da Covid, a produção de vacinas e de pesquisa na área de virologia foi fundamental. Então, a saída dele é um choque para nós.”
Até o momento, se manifestaram por meio de cartas e publicações em suas páginas a ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos), a Academia Nacional de Medicina, a Adufrj (representante do Sindicato dos Docentes da UFRJ), Auremn (Associação de Usuários de Ressonância Magnética Nuclear), a FeSBE (Federação de Sociedades de Biologia Experimental), o Friperj (Fórum de Reitores das Instituições Públicas de Ensino superior), o Instituto de Biologia da UFRJ, a SAB (Sociedade Astronômica Brasileira), a SBBf (Sociedade Brasileira de Biofísica), a SBBq (Sociedade Brasileira de Bioquímica), a SBI (Sociede Brasileira de Imunologia) em conjunto com a SBA (Sociedade Brasileira de Automática) e SBM (Sociedade Brasileira de Matemática) e os pró-reitores de pós-graduação, pesquisa e inovação do Rio de Janeiro.
Membros da comunidade científica e sociedade civil lançaram uma petição pública, que até as 16h30 reunia mais de 10 mil assinaturas, pedindo a permanência de Silva no posto.
Um manifesto organizado pela SBPC foi marcado para a tarde desta quarta (23), às 17h30, no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, na região da Urca.
Helena Nader, presidente da ABC, também criticou a decisão de Castro. “Quem perde é a inovação, porque o que ele estava fazendo era uma ciência voltada para a sociedade, que tem trazido retorno. O estado do Rio cresceu economicamente, cientificamente, cresceu na inovação, exatamente porque tem à frente da Faperj uma pessoa que não é de política partidária, mas um grande cientista e dedicado à instituição e ao estado.”