Com as recentes mudanças na política de privacidade do X (ex-Twitter), o Bluesky, plataforma concorrente, recebeu mais uma onda de “migrantes”. Segundo perfil oficial da rede social, mais de meio milhão de novos usuários chegaram à rede em 24h, oriundos principalmente nos Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul.
Além de permitir que usuários visualizem tuítes de contas que os bloquearam, a atualização do X agora informou que tornará obrigatória, a partir do dia 15 de novembro, a coleta de publicações e outras informações dos usuários para treinar modelos de aprendizado de máquina e inteligência artificial.
Bianca Sousa, ilustradora e artista visual conhecida como Andrômeda, alertou colegas artistas para que desabilitem a função e migrem de plataforma caso não queiram que seu trabalho seja utilizado para o aprendizado de máquinas.
A publicação acumula 80 mil visualizações e mais de mil compartilhamentos. Ao #Hashtag ela diz que se preocupa não apenas com o uso de seu trabalho, mas também com o alcance de suas publicações. “Devemos ficar de olho no público. Muitos ficaram insatisfeitos com as mudanças [no X] e estão optando em migrar para o Bluesky ou apenas sair do Twitter, o que significa que há menos pessoas para seus posts alcançarem”, diz.
Segundo a artista, redes sociais como o X e Instagram são essenciais para a divulgação do trabalho de artistas e sistemas de encomendas de arte, as chamadas “commissions”, que, por vezes, são a fonte de renda principal.
Para os artistas, ela aconselha evitar plataformas que usem conteúdo de usuários para o aprendizado de máquinas ou desabilitem a função em plataformas onde isso é possível, como no Instagram. “Além disso, temos sistemas anti-IA, como o Glaze, por exemplo, que “envenena” suas artes para atrapalhar o aprendizado da IA, porém não se sabe se é 100% eficaz”, explica. “O jeito mais realista é lutar para que a IA seja regularizada e segurada pelas leis.”
Cristina Alves, advogada e pesquisadora do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), explica que a imposição de um prazo para que os usuários possam optar por não compartilhar seus dados para o treinamento de sistemas de Inteligência Artificial representa uma clara violação da Lei Geral de Proteção de Dados no Brasil, já que o “consentimento livre, informado e inequívoco do titular é um dos pilares da nossa legislação de proteção de dados”.
A pesquisadora também questiona a postura do bilionário Elon Musk, que há alguns meses assinou uma carta aberta pedindo uma pausa no desenvolvimento de IA. Embora seja compreensível que uma rede social da magnitude do X invista na tecnologa, isso levanta a questão de que talvez sua intenção fosse apenas que as concorrentes interrompessem seus desenvolvimentos, beneficiando assim sua própria empresa, diz a especialista.
Artistas compartilham estratégias para evitar uso de seu trabalho para aprendizado de máquinas e debandam para o Bluesky.
“Se você viu aquele aviso sobre uma atualização dos Termos de Serviço, esta é a cláusula principal que foi alterada. Ele permite explicitamente que o Twitter use suas postagens e qualquer mídia anexada —incluindo imagens, vídeos e áudio— para o treinamento de modelos de IA como o Grok. Entrará em vigor em 15 de novembro.”
“Antes dessa alteração nos Termos, os usuários podiam optar por não participar de modelos de treinamento como o Grok [inteligência artificial do X]. Mas essa adição parece suplantar isso, tornando parte obrigatória do uso do Twitter”.
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